Considerada uma das principais galerias de arte do Brasil, a Fortes Vilaça completa 10 anos em 2011 com uma grande festa – “que por enquanto está só na nossa cabeça, mas que deve acontecer”, ri a sócia-fundadora Márcia Fortes em entrevista ao FFW.
A comemoração é justa: desde a sua inauguração, em agosto de 2001, a Fortes Vilaça ajudou a consolidar a carreira de artistas brasileiros como Beatriz Milhares e Adriana Varejão, criou uma discussão sobre o conceito de arte ao ser a primeira galeria a expor obras de grafite (osgemeos, 2006), e atuou ativamente no posicionamento do Brasil como um mercado de arte relevante para o resto do mundo.
Muito desse sucesso se deve ao trabalho de Márcia, ex-jornalista e ganhadora de dois prêmios Esso de equipe que “virou” curadora de arte em 1994, quando morava em Nova York como correspondente de artes e cultura e organizou sua primeira mostra de arte contemporânea a pedido do galerista Marcantônio Vilaça.
Em entrevista ao FFW, Márcia falou sobre a Galeria e o panorama das artes no Brasil.
Como será comemorado esse marco de 10 anos da Galeria Fortes Vilaça?
Nós temos toda uma programação de exposições para essa comemoração, com algumas coisas inéditas, como o Franz Ackermann na primeira mostra que ocupa os nossos dois espaços, tanto a Galeria quanto o Galpão; há o projeto de curadoria com o Jens Hoffmann, que é co-curador da Bienal de Istambul deste ano, e que dá continuidade às exposições que trazem artistas representados pela galeria em conversa com um artista convidado; é uma inserção celebratória, e nós vamos ter uma megafesta que por enquanto está só na nossa cabeça, mas que vai acontecer mais pra frente, próxima a data oficial de inauguração, que é 16 de agosto de 2001. Nós merecemos! (risos)
Você percebe uma mudança no panorama das artes no Brasil nesses 10 anos?
Sim, completa! Uma evolução completa, muito nítida e determinante. O circuito se profissionalizou numa velocidade muito alta; você vê isso também pela quantidade de galerias que surgiam – olha o quanto de galerias que existiam, e quanto há agora. Houve uma ascensão e assentamento do mercado, que agora é representado como setor: há agora um circuito e não apenas atividades particulares.
E quanto ao público, você sente uma abertura maior do brasileiro em relação à arte?
Acho que sim, mas ainda há muito que se conquistar. Há muita gente que tem fundos, mas que não tem esse foco cultural. Ainda se prefere usar o dinheiro com carros do que com arte. Ainda não há tradição. E falta também uma crítica de arte especializada que seja coerente; não há isso no Brasil!
E eu vejo que há muito preconceito, ainda. As pessoas vão ao cinema e assistem os filmes e falam “eu gostei” ou “eu não gostei”, mas elas têm medo de olhar uma obra de arte e dar uma opinião, sendo que, no fundo, no fundo, é uma questão de “gostei” e “não gostei”. Claro que você pode adquirir referências, gerar conteúdo com a sua experiência, mas a arte está aí para dar prazer, causar provocação intelectual. Você não precisa saber composição para apreciar música. Há muito preconceito, as pessoas ainda se sentem intimidadas.
O que você acha que poderia ser feito para que as pessoas se sintam menos intimidadas?
Continuar fomentando a solidez e a expansão do circuito. Tornar a arte mais presente, colocá-la na mídia; ela está na mídia impressa, mas não está na televisão! Investir em mais galerias, mais museus – os artistas estão aí, só precisam de mais espaço.
Veja mais imagens da exposição de Franz Ackermann, que segue na Galeria e no Galpão Fortes Vilaça até 30 de abril de 2011: