Igreja Aesthetic: o novo estilo dos templos evangélicos que seduzem a Gen Z
Kanye West, moletom em tons terrosos, cafés e merch conquistam a nova geração da fé.
Igreja Aesthetic: o novo estilo dos templos evangélicos que seduzem a Gen Z
Kanye West, moletom em tons terrosos, cafés e merch conquistam a nova geração da fé.
Paredes pretas e bege, palco decorado por leds, banda e fila na porta. O café na entrada serve soda italiana e os looks dos fiéis seguem as tendências atuais do streetwear. No Brasil de 2025, ser evangélico não é apenas uma questão de fé. Muitas igrejas têm apostado numa estética moderna que apela diretamente a geração mais jovem. A estratégia não parece à toa, e os dados apontam para isso. Pesquisa do censo divulgada pelo IBGE nesta última sexta (06.06) mostra que o número total de evangélicos cresceu e hoje representa 26,9% da população brasileira. Este percentual aumenta ainda mais entre os jovens de até 19 anos.
Essa estética, que se consolidou entre algumas igrejas neopentecostais voltadas ao público jovem, tem raízes visuais claras. Uma das principais referências foi o Sunday Service, projeto criado por Kanye West em 2019. O culto, que reunia coral gospel, batidas de hip-hop e convidados como Justin Bieber e Tyler, The Creator, acontecia ao ar livre ou em ambientes saturados de luz monocromática. Era música e sensação, sem pregação e sem liturgia tradicional. Outra referência é a igreja australiana de Hillsong, do Pastor Carl Lentz.

Na missa de Kanye, o visual era coordenado: cores neutras, peças largas, design minimalista. O artista – que já vinha se aproximando do tema religioso em t-shirs e moletons com frases como “Trust God” e “Holly Spirit”,assinadas pela Yeezy – ajudou a moldar um imaginário: o da fé como linguagem pop, visual e coletiva. Essa proposta reverberou. E chegou ao Brasil. Hoje, igrejas como a Reino Church, com sede em Balneário Camboriú, colocam em prática essa nova estética do culto. O templo, que reúne termos em inglês para descrever ambientes e cargos religiosos, lembra mais uma casa de show do que uma igreja. O feed no Instagram aesthetic segue uma cartela de tons pastel.
O visual dos fiéis chama a atenção: sneaker do momento, camisetas e moletons com frase bíblica ou slogan cristão, vindo direto do merch da igreja. A stylist da igreja – sim, algumas contam com este serviço – ajuda a montar os looks dos fiéis.

A mestre em semiótica e pesquisadora de consumo periférico Lidiane da Silva chama tudo isso de engenharia simbólica. “As novas igrejas evangélicas não vendem só fé. Vendem pertencimento, promessa e performance”, diz ela, num de seus vídeos no TikTok. E fazem isso com uma estética apurada, que muitas vezes se conecta às linguagens da moda e da cultura digital. Se engana quem pensa que nas periferias o movimento não existe, aponta a pesquisadora. Pelo contrário: com suas possibilidades, camisetas religiosas seguindo padrões visuais bem definidos tomam conta, apresentando tipografias fortes, frases diretas, composição gráfica descolada.
Gabriel Mascaro, diretor do filme Divino Amor, definiu numa entrevista ao G1 essa virada como “revolucionária”. Para ele, o neopentecostalismo atual rompe com o imaginário barroco do cristianismo. A estética da fé hoje é limpa, reapropriável, quase conceitual. E por isso, se espalha. A separação entre o sagrado e o profano se dilui. As igrejas deixam de parecer igrejas. A vivência religiosa se torna experiência compartilhável e coletiva. Nesse sentido, no lugar do sermão, entra um refrão. No lugar do terno, veste-se o moletom. E assim, as igrejas evangélicas vão conquistando cada vez mais seguidores.
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