FFW Sounds: Samuel de Saboia estreia disco autoral e reafirma sua arte sem fronteiras

Conhecido por suas obras visuais intensas, o artista recifense estreia na música com “As noites estão cada dia mais claras” — um álbum íntimo, político e emocional, onde transforma a dor em beleza.

FFW Sounds: Samuel de Saboia estreia disco autoral e reafirma sua arte sem fronteiras

Conhecido por suas obras visuais intensas, o artista recifense estreia na música com “As noites estão cada dia mais claras” — um álbum íntimo, político e emocional, onde transforma a dor em beleza.

POR Guilherme Rocha

Com uma trajetória marcada pelas artes visuais, Samuel de Saboia agora expande seu universo criativo com o primeiro álbum autoral, “As noites estão cada dia mais claras”. Pernambucano de origem e artista por essência, ele transforma vivências intensas em poesia sonora — misturando luto, amor e renascimento em faixas que soam como diários abertos.

Mas o que faz desse álbum um novo capítulo tão potente? E como Samuel traduz em música a mesma sensibilidade que o consagrou nas artes visuais? O FFW Sounds mergulha no disco de estreia e na força desse artista múltiplo.

QUEM É SAMUEL?

Artista multidisciplinar nascido em Recife, Samuel de Saboia, 27 anos, transita com naturalidade entre a pintura, a performance, a moda e, mais recentemente, a música. Seu trabalho nasce de uma sensibilidade profunda com o mundo ao redor — uma forma de dar corpo às memórias, emoções e experiências que acumula desde a adolescência, quando começou a pintar, aos 13 anos. Aos 16, já fazia exposições, e, em 2018, ganhou projeção internacional com sua primeira mostra solo em Nova York. Desde então, construiu uma linguagem própria marcada por texturas, cores vibrantes e multiversos simbólicos.

Conta sobre você e um pouco da sua trajetória.

Nasci em Recife, mais especificamente em Totó, o menor bairro da cidade. Minha arte se desenhou na vontade de explorar, de ver mais. Tive a vista da mesma janela por 17 anos, então, sempre que pisava fora de casa, sentia essa necessidade de absorver tudo ao meu redor. Desse acúmulo veio a criação: um jeito de deixar correr tudo aquilo que eu sinto e dar forma às palavras e memórias. Pinto desde os 13 e exponho desde os 16. Do online fui para o físico e, desde minha primeira exposição solo em Nova Iorque, em 2018, tive uma grande abertura internacional com meu trabalho. Assim fui criando e desenvolvendo minha linguagem de multiversos e texturas até que, recentemente, me lancei na música — um lugar no qual posso falar o que vivo sem o artifício da tela.

UMA MÚSICA PARA COMEÇAR: “Rei de Nada”

A faixa mistura poesia crua com beats delicados, e entrega de cara a alma do álbum “As noites estão cada dia mais claras”. Samuel chama essa música de algo para se orgulhar quando for velho — e com razão. É íntima, intensa e cheia de camadas, tipo um diário cantado sobre identidade, poder pessoal e renascimento. 

O que te inspirou a criar este álbum?

A vontade de chegar mais longe definido por minhas próprias palavras e ações. Minha contrária à estagnação é criar de maneira mais profunda, ir mais longe do que antes achei ser capaz. A música tem sido esse momento — em especial este álbum, que marca meus 27 anos e traduz muito do que carrego no peito.

 

Como foi o processo de criação da capa do álbum e do material visual?

Eu e Rafael Pavarotti, em um de nossos hotéis favoritos, o Bristol, em Paris, depois do último shooting da Dior. Estávamos exaustos, mas era nossa última oportunidade. Depois de algumas horas colocando a cabeça no lugar, botamos o álbum para tocar e o quarto virou set. Sem muitas trocas nem artifícios: era eu, ele e a câmera, numa situação tão comum à nossa amizade. Setenta e sete cliques, dos quais 25 formam a capa. O material visual teve direção criativa minha e clipes de Breno Moreira (“Rei de Nada”) e Pietro Lazzaris (“Deusa dos Prazeres Bobos” e “Amigo”, que será lançada em 12 de junho), além de “Meteoros de Haxixe” e “Eu Preciso de Distância (Ao Vivo)”, feitos por Pedro Maciel e editados por Rafael Marques, que também serão lançados em breve.

ÁLBUM PARA CONHECER:

O álbum marca um mergulho sensível de Samuel em suas memórias, emoções e transformações. Movido pela perda de um grande amigo, o artista constrói um disco profundamente pessoal, que ele descreve como um “resumo” de quem é hoje. Da voz às letras — muitas nascidas de gravações espontâneas — até a capa clicada por Rafael Pavarotti em um hotel em Paris, tudo carrega sua assinatura íntima. Entre os destaques, estão “Rei de Nada”, um hino de afirmação, “Amigo”, que reflete sobre crescimento, “Vingança Colorida” e “Mainha”, que exploram identidade e saudade, e “Eu Preciso de Distância”, um encerramento honesto e emocional. A produção é de Victor dos Anjos, Zelo (LLEZ) e Lucas Cavallin, parceiros próximos de Samuel na construção do disco.

Pode nos contar sobre o processo de composição das músicas?

São jams, toques ou letras inteiras que se revelam de uma vez só. Sou mais da fala do que da escrita, então carrego comigo um gravador ad eternum. Depois, se não consigo arranjar, ligo pro Zelo, meu amigo e parceiro de trabalho, que, juntamente com Lucas Cavallin, traduz a primeira parte em acorde. O resto, como diria a Pepita: “é rio!”

Há algum momento ou experiência pessoal que influenciou particularmente este álbum?

Perdi meu melhor amigo no início do processo. Ele vinha para minha exposição em Bruxelas; quando não apareceu, foi questão de tempo até a descoberta. Depois do luto, vieram nascimentos, amores e mudanças que preencheram ainda mais a complexidade emocional dessa obra. Hoje vejo como um resumo. Assim, com a descoberta da minha voz, me vejo despido e trago, nessa primeira leva, letras e timbres que digam de imediato o que estou fazendo aqui.

Como você escolheu o título do álbum? O que ele significa para você?

Ele é a parte final da letra da última canção — a última chamada que, no fim, conta, em uma linha, o que foi gravar esse disco. Minha cartomante e amiga Adelayo me explicou bem que, com toda grande luz (ou lançamento), as sombras tendem a aparecer, e assim tem sido. Ainda assim, meu desejo de iluminar é maior que o medo da descoberta, pois, afinal, curiosidade e criação são parte do meu ethos.

Qual foi a faixa mais desafiadora de produzir e por quê?

“Noites Claras”. Foi a última a ser gravada. Eu estava exausto e muito sentido, inflamado com a vida e o luto. Todas as afirmações cantadas nessa música são verdadeiras. Por fim, deixei gravado um pedido a mim mesmo de tornar a vida mais fácil de ser vivida. De toda maneira, ela continua linda (a vida). E, sobre a canção, meus músicos ficaram loucos com as inversões: usamos uma guitarra barítona — ideia genial do Lucas Cavallin — e, por fim, Thomas Harres e Tom dos Reis foram maestrais com a bateria e o baixo dessa faixa.

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