Issey Miyake e o plissado que revolucionou a história da moda
Criada em 1993, a linha plissada de Issey Miyake segue como um ícone de design radical, conforto cotidiano e beleza em movimento.
Criada em 1993, a linha plissada de Issey Miyake segue como um ícone de design radical, conforto cotidiano e beleza em movimento.
Issey Miyake e o plissado que revolucionou a história da moda
Criada em 1993, a linha plissada de Issey Miyake segue como um ícone de design radical, conforto cotidiano e beleza em movimento.
Criada em 1993, a linha plissada de Issey Miyake segue como um ícone de design radical, conforto cotidiano e beleza em movimento.
Poucos designers conseguiram transformar um processo têxtil em linguagem estética com tanta maestria quanto Issey Miyake. À frente de uma moda que nunca se interessou por modismos, o japonês revolucionou o guarda-roupa contemporâneo com suas pregas permanentes – esculturas de tecido que dobram, expandem e se movem com o corpo.
Criada oficialmente em 1993, a linha ‘‘Pleats Please Issey Miyake’’ continua sendo uma aula de forma, função e leveza três décadas depois, redefinindo o que significa vestir-se com liberdade. Mas, por trás dessa simplicidade aparente, existe uma história complexa e visionária, que entrelaça tecnologia, dança, sustentabilidade, e claro, muito design.
O nascimento de um plissado revolucionário
A história dos plissados de Issey Miyake começa em 1988, não como uma ideia de moda, mas como um ponto de virada criativo. Após a retrospectiva no Musée des Arts Décoratifs, em Paris, Miyake acreditava já ter feito tudo o que podia na moda. Foi ao se deparar com um lenço plissado em poliéster-seda que ele enxergou ali um novo caminho – não só de forma, mas de função. A ideia não era revisitar o glamour das pregas de Mariano Fortuny, mas sim criar roupas universais, democráticas, acessíveis e funcionais, sem perder a beleza e o impacto visual.
A gênese do Pleats Please
Antes de se tornar uma linha independente, os primeiros experimentos com plissados foram feitos para os figurinos do Frankfurt Ballet, coreografados por William Forsythe. Ao ver os dançarinos ganharem liberdade e prazer de movimento com as peças, Miyake entendeu que havia ali algo maior: uma roupa que respondia ao corpo, se expandia e se retraía em sincronia com o gesto humano. Em 1993, nascia oficialmente a linha ‘‘Pleats Please Issey Miyake’’, um marco que combinava moda, tecnologia, arte e cotidiano.
Garment pleating
O diferencial técnico da linha está no processo de ‘‘garment pleating’’, em que a peça é costurada primeiro e depois plissada – o oposto do processo tradicional. Isso exigiu anos de pesquisa e o desenvolvimento de um tecido especial, leve, resistente e com memória térmica. Produzido com poliéster de alta qualidade, o material é três vezes maior do que o tamanho final da peça e, depois de cortado e costurado, é prensado entre folhas de papel e submetido ao calor, fixando as pregas de forma permanente. Tudo isso acontece em parceria com a fábrica Polytex, no Japão, onde o trabalho ainda tem muito de artesanal – da costura à prensa.
O manifesto de Miyake
Inspirado pelas revoltas estudantis de 1968 na França, Miyake rejeitou o elitismo da alta-costura. A partir dali, se comprometeu com uma moda acessível, funcional e alegre – ‘‘tão universal quanto jeans e camisetas’’. As roupas Pleats Please podiam ser lavadas na máquina, enroladas na mala e vestidas direto para uma reunião. Não é à toa que se tornaram o uniforme não oficial de artistas, arquitetos, designers e pensadores: gente que vive em movimento e busca expressão sem esforço.
A ciência por trás do plissado
A equipe de Miyake, liderada pela especialista Makiko Minagawa, desenvolveu fios com propriedades antiestáticas ao fundir ingredientes diretamente nos chips de poliéster antes da fiação. Isso eliminava o incômodo da eletricidade estática, comum em malhas sintéticas. A colaboração com a Toray e a Seiren – gigantes japonesas da inovação têxtil – resultou em um fio técnico e durável, capaz de resistir ao uso intenso sem perder forma. Já os prints foram elevados com a tecnologia Viscotecs da Seiren, pioneira na impressão digital em tecidos com milhões de cores.
Democrático, atemporal e (literalmente) para todos
Longe de se esgotar como proposta, a linha ganhou novas formas e públicos. Em 2013, com a descoberta de que 10% dos consumidores eram homens, nasceu a ‘‘Homme Plissé Issey Miyake’’ – agora também cultuada entre galeristas, artistas e criativos ao redor do mundo. As coleções atuais da Pleats Please seguem lançando novas cores mensalmente, combinando o minimalismo escultural da forma com a vibração de tons intensos, como um estojo de aquarela prêt-à-porter.
Vanguarda sustentável antes da moda falar sobre isso
Décadas antes da sustentabilidade virar palavra de ordem, Miyake já pensava em circularidade. Um sistema de devolução nas lojas foi implementado nos anos 1990, e em 2012, uma nova fase do projeto passou a transformar peças devolvidas em energia. Em 1996, clientes já podiam escolher estampas de artistas e ver sua peça sendo criada na hora – um conceito tão avançado que ainda hoje parece futurista.
O legado de um plissado sem fim
Três décadas depois de sua criação, Pleats Please continua atual, desejável e funcional. Das passarelas às ruas de Tóquio, Londres ou Nova York, das fotos de Francis Giacobetti aos armários de Kim Kardashian e Mitsuko Uchida, os plissados de Miyake seguem encantando gerações com sua simplicidade sofisticada. Como o próprio criador declarou: ‘‘Pleats Please é o que considero minha contribuição mais valiosa ao design’’.