Espedito de Carvalho, Mestre da Cultura do Ceará, em sua oficina, em Nova Olinda ©Reprodução
Logo na infância, em Nova Olinda, na Chapada do Araripe, sul do Ceará, Espedido Velozo de Carvalho, hoje com 73 anos, aprendeu com o pai a arte de coser o couro. No início, o ofício, passado de geração em geração em sua família, era voltado apenas à produção de selas, gibões, chapéus e sandálias para os vaqueiros locais, mas, durante a década de 1980, as vendas de tais artigos ficaram escassas e ele precisou se atualizar.
Ao conseguir subtrair o cheiro forte do couro e, em seguida, colori-lo, Espedito passou a confeccionar bolsas, carteiras, chaveiros e até sapatilhas. Com os pontos de selaria que havia aprendido ainda cedo, ele criou desenhos intricados e seus produtos tornaram-se conhecidos primeiro no sertão nordestino, depois no Brasil; em 2005, a Cavalera convidou o artesão para desenvolver os calçados de sua coleção de Verão 2006. Há pouco tempo, após ver cópias espalhadas país afora, criou a marca Espedito Seleiro, que ganhou exposição este mês em São Paulo, realizada com o apoio da ONG ArteSol e do shopping Iguatemi.
Desfile de Verão 2005/06 da Cavalera, que trouxe calçados criados por Espedito de Carvalho ©Ag. Fotosite
Bolsas da Espedito Seleiro, expostas na mostra “Espedito Seleiro: Da Sela à Passarela” ©Divulgação
Na mostra, intitulada “Espedito Seleiro: Da Sela à Passarela” e alojada na instituição A CASA, em Pinheiros, é possível conhecer o trabalho de Espedito desde os anos 1960, quando montou a primeira oficina. Em conversa nesta quinta-feira (04.04) no Lounge One, do shopping Iguatemi, ele contou que criou várias peças para o cantor Luiz Gonzaga e ainda que a socióloga Violeta Arraes, irmã do ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, o ajudou a tornar-se mais organizado. Já sobre Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, que foi morto em 1938 usando uma “percata” (palavra que vem de alpercata) confeccionada por seu pai, Espedito explicou que, na verdade, quem encomendou a sandália para o líder do Cangaço foi um colega de bando. “Meu pai não chegou a conhecer o Lampião”, revelou, adicionando que sempre ouviu a história, em especial durante a infância.
Detalhe de peça da Espedito Seleiro ©Divulgação
Em 2007, Espedito produziu o figurino do personagem de Marcos Palmeira no filme “O Homem que Desafiou o Diabo”, de Moacyr Góes, e, pouco depois, foi agraciado com o título de Mestre da Cultura do Ceará. Mais recentemente, ele recebeu a Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura. Hoje, a oficina de Espedito em Nova Olinda possui 12 funcionários, sendo a maioria deles de sua própria família. Ele também está construindo na cidade uma pequena escola para capacitar os locais e um museu, além de planejar para muito em breve a instituição de um “corredor cultural”.
– Trailer de “O Homem que Desafiou o Diabo”:
“Você só aprende apanhando” ou ainda “Eu gosto de fazer diferente; fazer igual é muito fácil”: a partir do modo simples de Espedito, de suas palavras e de sua arte, é fácil perceber a riqueza cultural do Brasil, e mais ainda de como é preciso valorizar o que é produzido no país, pois até a equipe de estilo da Prada, tão influente e poderosa, já visitou Nova Olinda. A mostra “Espedito Seleiro: Da Sela à Passarela” fica em cartaz até o dia 17 de maio e tem entrada gratuita.
“Espedito Seleiro: Da Sela à Passarela” @ A CASA
Endereço: Rua Cunha Gago, 807, Pinheiros, São Paulo – SP
De 4 de abril até 17 de maio
Entrada gratuita
Informações: (11) 3814-9711
+ Veja na galeria abaixo mais imagens das peças da Espedito Seleiro que estão expostas em São Paulo: