Das coisas mais inspiradoras que li recentemente a entrevista publicada aqui no portal FFW com a editora da Vogue Itália, Franca Sozzani. Não tem como não concordar em gênero, número e todo tipo de grau com o que ela fala, por mais que doa em nossos corações o que ela fala da moda brasileira. Opinião de quem está de fora e não acompanha exatamente o que rola por aqui, mas acho sim que o que entendemos como Moda Brasileira não tenha uma unidade como ocorre com a moda italiana, ou um caráter de movimento, como à época do surgimento dos belgas ou mesmo quando o mundo descobriu os japoneses.
Porém, nem é nesse tópico que quero me fixar, mas no trabalho da edição de moda. É muito fácil chochar a revista dos outros. Confortavelmente, vamos folheando e apontando erros, falhas, deslizes, criticando com mórbida crueldade página por página. Principalmente no Brasil, não? Falo porque eu mesma fazia isso. Até ter a minha própria revista.
Quem trabalha com revista sabe que realmente o glamour é pouco. A grana em geral também, há milhões de limitações e frustrações com que temos que lidar. Passa-se muito tempo em reuniões, e nem sempre com gente criativa. E o administrativo sacal? E o comercial? E comandar equipes com personalidades distintas, com seus egos, suas idiossincrasias, seus timings diversos… E no final, com a revista na mão, sempre achamos que poderia ter ficado melhor. E quando sai um erro, um errinho sequer, queremos morrer. E parece que derruba todo o trabalho feito, mesmo o que ficou bom. É de fato muito duro.
Então eu agora respeito. Respeito todo mundo que se dispõe a fazer uma revista. Mesmo as mais preguiçosas, quando você sente que aquilo é feito no automático.
Moda é feita de muito trabalho, muito mesmo. E só quem está de fora acha que é glamour, glamour, glamour. Roupas bonitas, mulheres e homens bonitos, flashes e champagne iludem outsiders. E Franca, mesmo do alto do seu poder e influência, nos conta que sua jornada diária é de 12 horas. Como a de muitos de nós que trabalhamos com moda. Pergunte ao Karl Lagerfeld ou ao Alexandre Herchcovitch e eles vão dizer o mesmo número. É o meu também, já há bastante tempo.
Moda e o trabalho editorial são feitos de sucessivas e incessantes tentativas. De acertos e erros. Como disse o gênio Edson Matsuo, com quem tenho o privilégio de trabalhar na Melissa: temos que errar pequeno e acertar grande. Como se faz isso? Tentando, tentando, tentando sempre.
Quis também escrever sobre isso a partir do papo em 140 caracteres que troquei (@erikapalomino) com Paulo Martinez (@arrudaneles) ontem à noite no twitter, comentando a nova edição da MAG!. Não é exagero dizer que Paulo é uma unanimidade. Saia por aí e fale o nome dele com qualquer pessoa do mercado e as palavras ouvidas serão as mesmas. E nem é puxação de saco minha com ele nem com a casa. Sua delicadeza, seu apuro, seu bom gosto… E tudo isso passa para o trabalho, não tenha dúvida. Acredito muito na energia das pessoas. Faz toda a diferença.
Franca tem a sorte grande de ter a seu lado o talento genial de Steven Meisel, meu fotógrafo favorito há muitos anos, desde a primeira foto que vi dele. E a Vogue Italia, por sua vez, sempre foi minha revista preferida e uma grande inspiração. Nas temporadas internacionais gosto de ver Franca chegando à sala de desfiles. Sempre com essa mesma calma, os longos cabelos, afetação zero, discreta. Está trabalhando, não está fervendo nem fazendo pose. Já a vi em restaurantes, fazendo reunião com fotógrafos no Café de Flore, por exemplo. A mesma postura.
Muitos dos comentários postados aqui no FFW mencionam Anna Wintour. E aproveito para comentar o delicioso “September Issue”, quando todos descobriram não Anna, mas a adorável Grace Coddington. Terminado o filme, pensei sobre Anna: coitada, que vida chata que ela tem…