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    Chanel e a cultura do consumo
    Chanel e a cultura do consumo
    POR Camila Yahn

    O  público assiste enquanto as modelos vão às compras no supermercado da Chanel ©Reprodução

    Os desfiles da Chanel são conhecidos por seus grandes cenários e locações. Sempre magníficos, impressionantes e muito bem executados, eles chamam tanta atenção quanto a roupa e os acessórios, que são os motivos finais.

    Nesta temporada de Inverno 2014/15, a marca conseguiu se superar e transformou o Grand Palais em um “grand” supermercado, devidamente montado com corredores e prateleiras lotadas de tudo o que precisamos e queremos no nosso dia a dia: frutas, verduras e legumes frescos, café, os melhores queijos, pães, capachos, vassouras, utensílios para a cozinha e produtos de limpeza. Havia Choco Chanel e Jambon Cambon, boas tiradas com a Coco e a rue de Cambon. Ah, um pequeno, mas importante, detalhe: tudo em embalagens customizadas com os icônicos Cs cruzados. Como brinca uma amiga minha, “sem poqueza”.

    + Veja a coleção completa aqui.

    A apresentação termina e uma voz no microfone anuncia que o shopping vai fechar. “Sinta-se livre para pegar uma fruta ou legume de cortesia no seu caminho de saída.” Frutas e legumes? Infelizmente a cortesia da Chanel não foi suficiente para os convidados do desfile.

    E o que acontece? As pessoas ficam malucas e voam para as prateleiras. Você já deve ter visto centenas de vezes no seu feed. “Como animais vorazes, membros da primeira fila subiram nos displays, enfiando os souvenirs em suas bolsas e mastigando cenouras com casca. Editoras foram vistas escondendo cebolas em suas clutches”, diz a reportagem da Dazed Digital. Cebola, minha gente. Uma repórter do “The Telegraph” pegou um acessório, mas logo desistiu e se contentou com uma mexerica. Os saqueadores só não imaginavam que, na saída, uma equipe de seguranças confiscava os produtos roubados.

    + Assista aos vídeos:

    Karl Lagerfeld é um gênio de marketing e deve estar rindo do frenesi que seu supermercado causou. Mais ainda, bastante satisfeito com os zilhões de virais que isso gerou em perfis de redes sociais do mundo inteiro.

    Só o fato de criar um supermercado inteiro para uma apresentação de 15 minutos já mostra onde estamos: um mundo surreal, mágico, perfeito, um Elysium. Esse é o mundo Chanel, construído por uma equipe que vai muito além de Lagerfeld, e que trabalha sob o comando da impecabilidade.

    É também o universo do luxo, das experiências únicas. Se pararmos para pensar, luxo é um ponto de vista. Luxo para mim é tempo para ficar com meus filhos sem culpa ou ansiedade. Para a minha avó, nos seus mais de 85 anos, é saúde. Para muitos é uma televisão. Um prato de comida, uma viagem, um sapato com sola vermelha, um iPhone, um casaco para o frio, um teto para dormir, uma companhia.

    O que faz frequentadores de um evento de luxo subirem um por cima do outro para roubar uma cebola ou um espanador?

    Peraí, nós vemos cenas de pessoas saqueando mercados ou brigando por água e comida e, na maioria das vezes, são outros os motivos que desencadeiam essas ações.

    Aqui, o motivo foi a ganância. A falta de educação, de bom senso, que fez pessoas hiper privilegiadas agirem como mortos de fome. O desejo de ter sua casa embrulhada em logomarca. E aí você pega um queijo da Chanel e faz o quê? Pendura na parede? Ou come e guarda a embalagem…

    O que aconteceu após o desfile da Chanel é um espelho atual da cultura do consumo. Previsível, e ainda assim inacreditável.

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