Por Flavia Brunetti, em colaboração para o FFW

Quem visitar a exposição “Universo Criativo – Projeto Brasil 02”, na Bienal do Ibirapuera, durante a 32ª edição do São Paulo Fashion Week Inverno 2012, vai, no mínimo, se surpreender. A começar pelo prédio, obra do arquiteto Oscar Niemeyer, mundialmente conhecido por suas sinuosas linhas de cor branca, estar revestido de preto. Diferente também é a maneira em que as obras estão expostas: em andaimes altíssimos onde na base foram colocados quilos de carvão e estão distribuídos em 3 mil m², no piso térreo do edifício. Nessas estruturas estão pendurados telões de TV com depoimento de estilistas e convidados, roupas de desfiles, fotos, objetos pessoais dos designers, que juntos formam um mosaico de micro-universos.

Como surgem as ideias? Como se dá um processo criativo? Questões que de estopim tornaram-se tema da exposição que tenta mostrar que um processo criativo não é linear, é barulhento, é desorganizado e extremamente produtivo por ser assim. Tudo isso misturado a uma curadoria coletiva da organização do SPFW com os participantes da mostra, em co-produção com a Arte e Ensaio – editora e produtora cultural.

Exemplo desse processo feito a tantas mãos é o estilista André Lima, que veio pessoalmente ajeitar suas roupas “como só ele sabe fazer nas peças”. Ou outro estilista, João Pimenta, que trouxe objetos pessoais para compor seu espaço e mostrar o que o inspira. Fotógrafos brasileiros, como Cristiano Mascaro, Bob Wolfenson, Claudia Andujar e Mário Cravo Neto emprestaram seus trabalhos à mostra, que se realçam ao lado das fotografias do ícone Pierre Verger. Artistas plásticos como Stephan Doitschinoff, famoso por criar capas de discos, e Bruno Noveli e Filipe Jardim, com seus inconfundíveis desenhos, também marcam presença e contam para o público suas metodologias de criação .

“Quisemos construir uma caixa preta, misteriosa, em que o que dá vida e a colore são os pensamentos expostos ali”, diz Graziela Peres, diretora da revista “Mag!” e responsável pela edição de todo material. “A cacofonia de pensamentos, a turbulência de sons também ajudam a dar o clima da exposição”, ressalta.

Ironicamente, ou não, o processo criativo da mostra que tenta retratá-lo foi bastante organizado. Os vídeos foram gravados em duas semanas e a produção levou apenas dois meses. “Em torno de 400 profissionais foram envolvidas na montagem dessas estruturas”, conta Renê Serra, Coordenador de Produção do evento. O maior desafio foi montar o quebra-cabeça para juntar fotógrafos, estilistas e convidados, que tinham que ter o mesmo tipo de pensamento defendido ali.