David Royston Bailey dispensa apresentações. Este fotógrafo britânico marcou os anos 60, com suas icônicas imagens em preto e branco publicadas nas maiores revistas do mundo, inovando a fotografia de moda e os retratos de celebridades.
No ano passado, Bailey trabalhou um pouco com esculturas. Agora ele estreia suas pinturas na galeria Scream, em Londres (veja imagens abaixo). A nova jornada do artista mistura autobiografia, fotos de ícones contemporâneos e pintura sob a narrativa de sua experiência na Blitz (bombardeio do exército alemão na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial).
Apesar de ser disléxico e ter problemas de relacionamento na escola, seu interesse por história o levou à fotografia. Saiu do colégio aos 15 anos e foi trabalhar como mensageiro em um jornal. Fez outros bicos até entrar no serviço militar, onde serviu em uma missão em Singapura.
Em 1958, largou a carreira militar para seguir como fotógrafo. Ele começou a trabalhar como assistente de outros profissionais e realizava pequenos trabalhos no estúdio. E com apenas 22 anos, foi contratado pela revista “Vogue” britânica para fazer as fotos dos editoriais de moda da publicação, o que fez sua carreira deslanchar. Aí é o encontro da ousadia da revista com o talento de Bailey, que era percebido até nos trabalhos sem muita importância.
Junto com dois colegas londrinos, Terence Donovan e Brian Duffy, Bailey criou e capturou as imagens que ajudaram a criar o espírito da Swinging London dos anos 60, uma cultura de moda, artes e das celebridades da época. Entre as personalidades que Bailey fotografou neste período estão The Beatles, Mick Jagger,Twiggy, Brian Jones e Catherine Deneuve, com quem inclusive foi casado entre 1965 e 1972. Mas nem só de passado vive esse fotógrafo. Aos 73 anos, Bailey contina fotografando e se aventurando pelo mundo das artes.
Em uma entrevista à revista “Dazed and Confused”, ele fala sobre suas inspirações e de como vê o seu trabalho. Confira alguns trechos:
Você parece estar mais introspectivo que o normal ultimamente.
Não, está tudo igual, qualquer coisa que eu faço. É sempre sobre o jeito que eu vejo as coisas.
Você acha que misturar mídias está mais relevante hoje?
Não, eu sempre fiz isso. Mas isso tem de ir para algum outro lugar agora, é muito fácil. Em breve, será possível pintar no computador e derrubar Botticelli. Bem, você já pode fazer um Warhol. A única coisa que o computador não pode fazer é ser você e ter suas emoções, então, o que eu faço é contar minha história. Não é sobre o que Damien Hirst or Jeff Koons estão fazendo. É sobre o que eu estou fazendo.
Como você descreveria sua pintura?
Não sou um pintor, como não sou um fotógrafo, porque a maioria dos fotógrafos não são artistas. Qualquer um pode apertar “click”. Eles pegam uma zebra e colocam o candelabro de cabeça para baixo, um urso polar de pelúcia e uma garota no meio. Onde está a atitude ou o ponto de vista?
Então a composição é superestimada?
É como colocar coisas em um mantel; se não parece certo, você mexe até funcionar. Não é sobre composição. É sobre como você se sente, sobre como seus objetos se relacionam uns com os outros. Eu tenho várias estátuas africanas e a faxineira arruma elas como soldados, o que me deixa louco. Então eu tenho que rearranjar tudo, e isso deve deixa-la louca, porque estou fazendo uma anarquia e ela, manobras militares.
Qual o seu ponto de vista hoje?
Diferente do de ontem. E espero que eu tenha mais alguns até o fim do dia. Se você não continua mudando, você não descobre nada. Toda minha vida é motivada pela curiosidade, descobrir como as coisas funcionam, como as pessoas pensam. É meio existencial.