Uma busca rápida por “couture is dying” no Google revela que a discussão sobre a morte (ou não) da alta-costura circula pelo mundo da moda pelo menos desde 1990. É um processo cíclico, com previsões apocalípticas que começam toda vez que uma maison anuncia o fim de suas atividades no setor, seguidas por artigos e reportagens que mostram a contínua relevância _e, portanto, sobrevivência_ desse segmento na movimentação de todo o mercado de moda.
E esse debate cíclico de extinção X triunfo pode gerar opiniões opostas vindas até de um mesmo analista, em contextos diferentes: em 2004, ano em que Ungaro e Versace se retiraram das apresentações de couture, a jornalista do “The New York Times” Cathy Horyn criticou as pessoas que previam a morte do segmento porque “elas estão muito focadas nos detalhes para ver o contexto maior e o que a linguagem e excitação da alta costura significam para os marqueteiros de produtos de consumo”, adicionando que desde o início desse mercado, “apenas um punhado de couturiers foram relevantes, apesar do número de maisons. Nos anos 1950, eram Chanel, Dior e Balenciaga. Hoje são Karl Lagerfeld da Chanel, Mr. Galliano, Jean Paul Gaultier e Christian Lacroix”. Já em 2010, a jornalista mudou de opinião e afirmou que a “alta-costura está definitivamente murchando” porque, apesar de as companhias de luxo terem se recuperado da crise econômica, quase todas “estão focadas na China e nos famintos consumidores chineses”.
Um artigo publicado no dia 21 de janeiro de 2011 no WWD, porém, refuta essa visão pessimista _e bem a tempo do início da nova temporada de alta-costura. Representantes da Chanel, Christian Dior, Givenchy, Giorgio Armani, Elie Saab, Valentino e Jean Paul Gaultier apresentam números positivos e uma atitude mais positiva ainda em relação à perspectiva desse mercado em 2011 _Stefano Sassi, CEO da Valentino, por exemplo, espera um crescimento de 20% para este ano!
As altas expectativas são justificadas no artigo por uma serie de fatores: Sidney Toledano, CEO da Christian Dior, cita o aumento da clientela asiática (opinião compartilhada pela maioria dos entrevistados) e o retorno dos clientes americanos que se retraíram durante a recessão; John Hooks, vice-presidente da Giorgio Armani, (cujo segmento Privé cresceu 45% em 2010), credita os esforços da grife, que realizou um desfile de couture em Dubai, conquistando uma leva de novos clientes; Fabrizio Malverdi, CEO da Givenchy, fala do formato mais intimista adotado pela maison na última temporada de alta-costura, que teria agradado os clientes fieis e deixado o couture “ainda mais especial”.
O WWD cita ainda a preocupação com o atendimento personalizado (a Chanel passou a ir até os seus clientes em vez de esperar que eles venham até Paris); a crescente cobertura dos veículos de moda, que repercutem as coleções de couture e alimentam o desejo de consumo mesmo entre o público mais jovem; e a proximidade da apresentação das coleções com as temporadas de premiações do cinema, que proporcionam divulgação ímpar para cada vestido usado por celebridades como Angelina Jolie e Halle Berry. Sinais dos novos tempos… mas também há espaço para o romantismo. O artigo do WWD termina com uma declaração de John Hooks, da Armani, de que o couture está aí para lembrar-nos de onde vem a grife: “dos sonhos de um estilista”.