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    “Não temos medo da China”, diz Camera della Moda Italiana
    “Não temos medo da China”, diz Camera della Moda Italiana
    POR Redação

    Por Juliana Lopes, de Milão

    Mário Boselli, presidente da Camera Italiana della Moda, com Franca Sozanni, da “Vogue” italiana ©Reprodução

    O mundo ocidental está assistindo ao crescimento econômico chinês com um certo espanto. Famosos por copiar e produzir em extrema rapidez e baixos custos, os chineses atravessam cadeias produtivas ocidentais. E, ao mesmo tempo, estão eles entre os primeiros a comprar o que o Ocidente produz.

    A moda italiana, que defende a originalidade, a pesquisa, e uma velocidade mais humana e menos automática, também não tem escapado da influência chinesa: que copia a moda italiana, mas também compra a moda italiana. E a mão de obra chinesa não é descartada: várias grifes italianas têm partes de suas coleções produzidas na China. Que seja a fivelinha do cinto, um detalhe menor. Mas, sim, acontece, e até a marca Dolce & Gabbana já assumiu isso.

    Mesmo assim, no dia a dia, os italianos, no geral, torcem o nariz pelo que é made in China. Tanto que, não ao acaso, muita gente torceu o nariz para Mario Boselli, presidente da Camera Italiana della Moda, que acabou de voltar da China, com quem fechou uma parceria corajosa: abrir as portas para estilistas chineses desfilarem em Milão. Em contrapartida, a China se compromete a dar espaços para estilistas italianos menores, ainda não grifados. “Não quero aqueles que copiam. Quero conhecer os estilistas chineses que são ligados a sua própria cultura, que é tão milenar quanto a nossa”, disse Boselli, em entrevista exclusiva ao FFW, feita em seu escritório em Milão.

    Boselli é conhecido por defender o próprio “peixe” – como não deveria deixar de ser, sendo ele um importante representante da moda de seu país. Para ele, os ideais do Made In Italy estão acima dos outros. Independentemente de aceitar ou não essa posição, um homem que conhece essa tradicional indústria de moda é para ser observado. Entre outros assuntos, logo nos primeiros minutos, o presidente da Camera della Moda Italiana deu seu parecer sobre a “briga nos calendários”. Leia abaixo:

    FFW: Senhor Boselli, gostaríamos de entender qual o interesse da indústria da moda italiana em fazer parcerias internacionais. O que a moda ganha com isso?

    Mário Boselli: A Camera Nazionale della Moda Italiana tem vários tipos de relações internacionais. Um dos mais significativos é com a Fédération Française de la Couture du Prêt-à-Porter (a entidade francesa), assinado pela primeira vez em 2000 em Paris e reassinado em 2005, em Milão. Neste caso, defino como acordo entre “primos”, porque somos os dois grandes protagonistas da moda internacional. É mais um acordo do tipo político-estratégico, já que a França e a Itália dividem uma visão comum da moda, que é a que chamo de “criativo-manufatureiro”. Não por acaso se choca com a visão do tipo americana e anglo-saxônica. A pátria do marketing e branding são os Estados Unidos, que são bons nisso. A situação que estamos vivendo hoje nas semanas de moda (a briga dos calendários de moda) é um pouco fruto dessa questão. As pessoas falam sobre esse fato como se fosse uma fofoca, mas nao é isso. Por trás estão razões profundas de como cada um vê a moda.

    Coleção de Verão 2012 da Versace

    A Itália está fazendo parcerias com países ainda emergentes no mundo da moda. Por que?

    Porque também assinamos outros tipos de acordos, que são mais, digamos, operativos e menos políticos, embora sejam sempre interessantes. A base de uma aliança entre França e Itália não é a mesma coisa que Itália e China. Esses outros acordos operativos começaram de 2005 pra cá, com países que têm suas próprias semanas de moda como a Colômbia, a Rússia, a Espanha. Em breve faremos uma parceria com a semana de moda de Tel Aviv, em Israel. A ideia é promover a troca entre jovens designers.

    Por que focar em jovens designers nessa parceria?

    As marcas grandes já têm as portas abertas na China, não precisam fazer esforço. Muito pelo contrário, são chamadas a entrar! Por isso achamos que é preciso favorecer a criatividade jovem a conseguir se representar em um mercado que é muito difícil. A lógica é selecionar a melhor realidade de um país e hospedar em um outro país. A Itália oferece como oportunidade os eventos que acontecem durante a Milano Moda Donna e a Milano Moda Uomo e, reciprocamente, esses outros países receberiam nossos novos designers.

    E o que pode resultar de uma aliança entre a Itália, com sua moda tradicional, e a China, que tem um modo de produção totalmente diferente?

    Acho que vai dar certo porque é um acordo entre dois países que se complementam. Somos dois tipos de costureiros diferentes no mundo da moda. De um lado o sarto italiano que busca excelência do produto, a criatividade, a procedência dos materiais. Já o sarto chinês é o máximo produtor de vestidos em massa hoje.

    O que dizer da velocidade do Made In China?

    Os chineses são velozes em executar a roupa. Mas os chineses não são velozes em cumprir toda a fileira criativa, produtiva e distributiva.

    Os chineses são mais conhecidos por reproduzir o que já está feito.

    Exato. O processo italiano é diferente. Mas podemos ser aliados.

    E como funciona na prática essa entrada de marcas menores na China?

    Já marcamos a próxima data: no fim de março de 2012 vamos fazer o chamado Milano Moda Showroom, em Pequim.

    E qual a repercussão até agora desta parceria?

    As pessoas me dizem… “Presidente, mas o senhor está trazendo o inimigo pra casa!” (risos). Nós não temos nenhum medo de trazer jovens criativos e marcas emergentes chinesas que tenham sua própria originalidade e criatividade, que venham do cromossomo de sua cultura, da sua arte, que é milenar, tanto quanto a nossa. Isso não nos assusta de forma alguma.

    Mas os italianos em geral parecem ter preconceito com o que é feito na China, não? Em geral o produto que sai da China vem carregado de outras questões…

    … principalmente no que concerne ao respeito de alguns cânones anti poluição…

    E como o senhor mudou seu pensamento em relação a isso?

    Na verdade nós não aceitaremos designers chineses que não tenham uma inspiração original. Não nos interessa os semi-Prada, semi-Versace. Mas temos que ter respeito pelos estilistas chineses que tenham a sua própria originalidade, coerência com as próprias raízes, que sejam ligados à própria história. Como somos nós italianos ligados ao Renascimento, por exemplo.

    Desfile de Verão 2012 da Prada

    Obviamente, essa parceria interessa muito a Itália porque os chineses são ótimos compradores do que é feito na Itália, nao?

    Correto.

    Eles estão entre os maiores compradores?

    Os primeiros a comprarem no “quadrilátero de ouro” (modo como se define os quarteirões centrais de Milão, onde estão as grandes marcas italianas) são os russos. Em segundo lugar os chineses. Mas os chineses são os que estão crescendo. Eles serão os primeiros em breve, tanto em quantidade de compra, como em velocidade do crescimento das compras.

    Então esse é um grande elemento de interesse?

    Olha, há uns cinco anos eu não faria isso. Ese acordo só foi possível porque os chineses mudaram muito. E eles mudaram muito rápido.

    Em que aspecto os chineses mudaram, do ponto de vista de um europeu?

    Em tudo. Os hotéis por exemplo. A primeira vez que fui a um hotel chinês era realmente um nojo. Hoje os hotéis deles são melhores do que os nossos. Com belos serviços, atenção aos detalhes, verdadeiramente excepcionais. Eles tendem a ter o nosso estilo de vida.

    O senhor está dizendo que os chineses se inspiram no estilo de vida europeu?

    (acena com a cabeça)

    E como é hoje o estilo dos italianos interessados em moda?

    A consumidora italiana é transversal. Do mesmo modo que vai na Peck (loja cara de gastronomia) comprar alimentos, vai ao supermercado. Aqui no centro de Milão vejo sempre senhoras com uma sacolinha pequena muito elegante, de Prada ou Versace, e ao mesmo tempo, na outra mão, uma sacola da Zara ou H&M. Os italianos estão misturando, e esse é um sinal de maturidade.

    Obviamente queremos trazer esse discurso para o Brasil. Na sua opinião, o que é preciso, hoje, para construir um sistema de moda interessante?

    Mesmo para aqueles que queiram um produção menor, é preciso produzir de acordo com a originalidade. Esses precedentes que valem para nós acho que valem para qualquer um. É preciso ser líder no que se tem. Se falo no Brasil eu penso em beachwear, cores, estampados, carnaval do Rio, alegria de viver, exuberância e excesso.

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