O FFW agora tem uma nova seção, Jovens Empreendedores, que vai contar a história de jovens empresários e os segredos por trás do sucesso de seus negócios. As ideias, os modelos de negócios, as escorregadas e as vitórias que ocorreram para fortalecer a empresa e mantê-la no mercado de forma saudável. Quem estreia é a marca de lenços estampados ScarfMe, que já começa a aparecer com seus quiosques em diversos shoppings pelo Brasil, totalizando 10 pontos comerciais, além da loja online. Em menos de um ano de existência, ela já emprega 80 funcionários.
E apesar dos seus poucos meses de vida, a ScarfMe tem conquistado cada vez mais os pescoços, as cabeças e os acessórios de muitas mulheres elo país. Embora tenha nascido em uma família com tradição no mercado (a empresa de estamparia Salete, do grupo Rosset), nada teria acontecido, não fosse o esforço de seus criadores, os irmãos Daniel (28) e Rodrigo Rosset (30), de fazê-la acontecer.
Em primeiro lugar, os irmãos tiveram uma boa sacada: a moda passa por um momento de amor por lenços estampados. Depois, abriram um negócio no qual poderiam usar o que aprenderam com a experiência da família, que produz estampas para diversas marcas no Brasil. Daniel também se tornou um bom conhecedor de tecidos importados por conta de seu trabalho com o pai. Além disso, havia o acesso às máquinas de estamparia digital, essencial para o negócio, e a ideia de vender os lenços em simpáticos quiosques em vez das lojas tradicionais. Coloridos e convidativos, eles foram primordiais para o sucesso da empresa.
Quando começaram, Daniel e Rodrigo não tinham nem sala de estocagem e utilizavam um “canto quente” dentro da Salete, com um ventilador e milhares de pastinhas que separavam os vários lenços disponíveis para enviar aos shoppings. O computador ficava apoiado em cima da mesa e, segundo Daniel conta, entre risos, “era um inferno”. Quem via os quiosques coloridos e dinâmicos, com embalagens bem cuidadas, não imaginava o que se passava nos bastidores.
Logo nos primeiros meses, a marca teve uma resposta positiva de aceitação. A ScarfMe conseguiu ocupar uma sala maior e também passou a ser vista como uma “empresa séria”. E mostra que ainda está numa fase de investimentos: recentemente, trouxe para São Paulo Larissa, uma italiana de Como, dona da tradicional e pequena Confezioni Pamela, e que há 40 anos realiza trabalhos de costura de lenços para marcas como MaxMara, Versace, Pucci e Valentino. Suas costureiras estão, há duas semanas, tendo aulas com Larissa, que introduziu na empresa a mano-machina, uma máquina que imita as barras de lenços tradicionais feitas à mão. “Para mim, trabalhar com a ScarfMe ou com a Versace é a mesma coisa. Só quero que o meu trabalho seja bem feito”, diz Larissa ao FFW. Durante nossa visita ao atelier da grife, notamos que há, de fato, uma atenção aos detalhes, e a vontade de entregar ao consumidor um produto de qualidade. “Com o preço mais ‘possível’ de pagar”, completa Daniel, que abriu as portas da Salete e explicou todos os processos ao FFW. Acompanhe abaixo:
Como surgiu a ideia de fazer lenços estampados?
Aqui na estamparia Salete, tradicionalmente somos fortes em moda praia, fitness e lingerie. Atendemos a maioria das marcas de moda praia e lingerie do mercado, além de outros clientes de moda. O nosso trabalho diário já é estar em contato com estamparia para todos os clientes que querem fazer biquínis e vestidos também, porque nós também importamos tecidos. A Salete é uma das maiores estamparias do Brasil e agora estamos com a tecnologia super avançada de estamparia digital. Dentro desse universo de estamparia e estamparia digital, começamos a ter algumas ideias. O lenço nasceu quando o meu pai voltou de viagem e me perguntou: “O que é que você acha de lenço estampado?”. E eu disse: “Lenço? Acho que não!”. Acho que ele juntou as duas coisas, a estamparia, com os tecidos que a gente começou a importar e falou “isso aqui é o que a gente tem pronto!”. E realmente era uma grande ideia. Que depois evoluiu comigo e com o meu irmão.
Foi aí que nasceu a “ScarfMe”?
O lenço estampado na cabeça dele [do pai] era aquela coisa que se usava na Itália, mega tradicional. Eu comecei a fazer umas brincadeiras e a ver que a ideia era realmente boa, mas precisava ficar mais moderna. Fiz umas experiências, com estamparia digital, estampas mais coloridas e aí começou a ter uma cara que as pessoas começaram a olhar e a falar que estava bonito.
“Mas e aí? Como a gente vai vender isso? Vamos vender para os clientes, para eles venderem e desenvolverem?”. Uma série de questões foram levantadas. Eu posicionei minha ideia de abrir uma marca, mas claro, tinha dúvidas. Será? Uma marca só de lenços? Mas resolvemos arriscar.
E como vocês levaram a marca pra frente?
Quando estava na faculdade, eu já trabalhava na Salete, desenvolvendo a parte da estamparia digital e tinha muitas coisas que eu via o cliente fazendo e gostava de prestar atenção. O meu irmão não. Ele trabalhava com publicidade e quando isso começou a tomar corpo, falei que precisava da ajuda dele. Apesar de eu participar bastante do lado comercial da Salete, eu acabava também entendendo muito de produto e também do marketing. Eu já sabia o que ficava bem em qual tecido, o que era bonito em estampa… Acho que estamos acertando muito na estampa, que é o segredo do negócio, junto com esse expertise que a gente tem em marketing.
Como surgiu o quiosque?
A ideia do quiosque foi proposital. Não foi porque era mais barato, mas porque é mais especifico. Um quiosque em ótimos shoppings, iluminados, coloridos, só com lenços, onde a mulher fosse procurar só aquilo. Tínhamos um deadline para lançar, o Dia das Mães, e precisávamos ainda de um nome. Aí chegamos na ideia do “ScarfMe”. Começamos logo a pensar em campanhas, coisas que davam para fazer com esse nome, pois queríamos alguma coisa com um tom bem pessoal. E a partir daí desenvolvemos tudo: a marca, o logo, a embalagem, os shoppings selecionados… O Cidade Jardim, onde abrimos o primeiro quiosque, a gente sabia que não ia vender nada, porque o shopping é quase uma galeria de arte. Mas acabou por virar um case da administração do shopping. No dia que abriu, as mulheres passavam por lá e compravam. Era uma estratégia de posicionamento, mas acabou virando um caso de sucesso.
Quanto a marca vendeu nos primeiros meses?
Ah, isso é segredo (risos)! Mas nos surpreendeu bastante. Vendemos uns 50% acima da expectativa.
Quais são os planos para a marca?
Em São Paulo, estamos no Cidade Jardim, Iguatemi e Pátio Higienópolis; no Rio, no shopping Leblon; em Porto Alegre, no Iguatemi; e estamos abrindo mais três pontos. Quando completarmos um ano, agora em maio, teremos 10 pontos de venda, mais uma loja grande no JK.
Qual foi o investimento inicial para dar start à marca?
Em torno de R$ 500 mil.
Quanto investiram até agora?
É difícil dar um número exato. Fizemos esse investimento inicial e depois temos que fazer uma manutenção e alguns aperfeiçoamentos. Acho que durante estes primeiros dois anos, é o período de maior investimento e depois é só mais uma manutenção.
Quando esperam estar quites com o primeiro capital investido?
Daqui a dois anos.
Vocês também fazem muitas parcerias, não?
Sim. Fizemos uma parceria com a Schutz, de lenços que combinam com os sapatos. Fizemos a primeira parceria assinada pela designer Adriana Bittencourt e vamos desenvolver uma linha assinada pelo Dudu Bertholini.
Fizemos também uma parceria com a ONG Bicho Família, em que 20% das vendas iam para a organização. E durante o SPFW, fizemos umas almofadas para o lounge da “Harper’s Bazaar”. No verão, no Rio de Janeiro, lançamos uma novidade, que são os panôs, uma canga em seda para levar para a praia e que fez muito sucesso, com vários tipos de amarração. Temos inclusive uma parceria com o blog Colheita Especial, em que as meninas fazem uns tutoriais de como usar os panôs.
Como mantém o quiosque sempre dinâmico?
Nós trabalhamos com coleções mensais. Então é muita variedade e pouca profundidade. Não queremos todas as mulheres usando o mesmo lenço. De quinze em quinze dias, não vou dizer que trocamos tudo, mas 90% das peças. Até porque é um quiosque, então tem que ser dinâmico. O varejo é muito rápido. É empolgante e perigoso ao mesmo tempo, pois ele te dá um resultado imediato e gás para você crescer rápido, mas de repente, se você errar uma coleção, você quebra.