Por Elis Martini, em colaboração para o FFW
Fernanda Yamamoto apresentou seu Inverno 2014 nesta terça-feira (29.10), no SPFW. Conhecida por criações que mesclam técnicas artesanais e influências artísticas, a estilista paulistana mostrou mais uma vez um intercâmbio conceitual entre moda e arte. Casada há dois meses com o arquiteto Rodrigo Ohtake, neto da cultuada artista plástica Tomie Ohtake, Fernanda conversou com o FFW no backstage do desfile sobre sua relação com as artes.
+ Veja aqui a coleção de Fernanda Yamamoto no SPFW Inverno 2014
Como a arte apareceu nesta coleção de Inverno 2014?
A arte aparece mais nas estampas e nos tecidos. Temos uma estampa que foi um desenho a lápis feito por um estúdio de ilustração, o My.s, e uma aquarela feita pelo artista Andre Maciel. Além disso, temos outras estampas feitas no ateliê com canetinha e pincel.
A arte sempre foi uma grande influência no seu trabalho. Seu relacionamento com o Rodrigo Ohtake aumentou essa relação?
Depois de ter conhecido o Rodrigo essa influência aumentou, porque ele respira isso desde criança. Tenho muita admiração pelo trabalho da Tomie, e isso acaba aparecendo nas formas, nas cores que eu uso. Às vezes é até uma coisa subconsciente, eu acabo fazendo sem perceber.
Você conversa sobre moda e arte com ela?
Eu acabo mostrando meu trabalho para ela depois de pronto. Ela é muito fofa, elogia, tem uma grande sensibilidade. Mesmo não entendendo de moda ela tem um olhar muito apurado, os comentários que ela faz são sempre surpreendentes.
Qual o espaço que você acha que existe no Brasil para quem faz uma moda mais autoral como você?
É um nicho, mas vou continuar fazendo o que acredito. Às vezes existe uma cobrança de deixar o trabalho mais comercial, mas tento encontrar o equilíbrio, sempre mantendo a identidade.
Você tem alguma dificuldade maior de aceitação por causa disso?
É mais difícil das pessoas entenderem, mas existe muita gente que valoriza e se identifica com o trabalho.
Quais são seus artistas favoritos? Aqueles que você sempre vai para buscar ideias?
Vou falar dos brasileiros que acho mais interessante. Claro que a Tomie Ohtake é uma grande referência, mas tem um nova geração de artistas muito especial. O Nino Cais é uma pessoa que depois de conhecer e gostar do trabalho ele acabou se tornando um amigo. Tatiana Blass, Carla Chaim, tem muita gente com trabalho legal.
Qual a sua mensagem para os novos estilistas que querem seguir esse caminho da moda mais autoral?
Ser estilista exige repertório. Formar uma imagem não é só técnica e não é só vontade. A inspiração não cai do céu, existe uma apuração de um olhar que você só consegue com interesse por arte, por arquitetura e por design. Tem que sair um pouco do mundinho, não é só o “look do dia”, vai muito além disso. É ver moda como uma forma de expressão e cultura.
E como você adapta as criações do desfile para coleção que vai para loja?
Os tecidos vão todos, mas acabamos mexendo um pouco nos comprimentos e volumes. Praticamente tudo que está aqui vai para loja. Se a pessoa gostar de alguma coisa pode ir lá que vai ter; vai demorar, mas vai ter!
Você já desfilou suas coleções no Chile e no Japão. Como estão os planos de exportação?
Na verdade foram convites pontuais, não é uma coisa que faço com frequência. Fiz algumas exportações, especialmente para o Japão. Está nos meus planos futuros, mas preciso me estruturar melhor primeiro aqui.
Você também já fez parcerias com diversas empresas, como Hello Kitty, Triumph e Chocolat du Jour. É uma forma de tornar o seu trabalho mais acessível? Qual foi a que você mais gostou de fazer?
Gostei muito e foi um desafio muito grande assinar a coleção da Ivete Sangalo para Triumph. Porque ela é um ícone de brasilidade e sensualidade e a Triumph é uma marca super tradicional. Me chamaram para trazer um olhar de design e fazer uma coleção que contasse com esses três pilares de sensualidade, tradição e design.