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    Do que se vê ao que se sente: a moda que joga com os sentidos

    Por Felipe Vasconcelos

    Há algum tempo, a criação de moda nos mostra que pode explorar muito mais dos sentidos do que tão somente o que podemos notar ao acompanhar um desfile pelas telas de nossos smartphones. Com o passar dos anos o “sentir” têm sido muito mais explorado pelos designers e duas ferramentas têm sido primordiais durante esses tempos: a brincadeira com nosso olhar do trompe l’oeil e a mescla de texturas e tecidos em um jogo de toque e de sentir na pele.

    Trompe L’oeil: limites visuais, o inconsciente e a realidade

    A expressão francesa trompe l’oeil significa, em tradução livre, enganar o olhar. E ela aparece de fato como um recurso visual de impacto no período renascentista entre os séculos 14 e o 16 na Europa, embora haja registros da técnica desde muito antes. Nesse período, o centro de toda a criação e atenção passa a ser o homem, seu corpo e suas complexidades e a racionalidade passava a ocupar o espaço que o catolicismo vigente à época e o misticismo haviam conquistado previamente. A busca pela verdade, pelas certezas da ciência e pela natureza em sua forma real eram as premissas de artistas e cientistas que contribuíram de maneira decisiva para a evolução da humanidade que temos hoje.

    Paralelamente a toda essa racionalidade, os estudos de arte, em sua grande maioria, buscavam ferramentas que desafiassem o olhar e lançassem o questionamento do limite do que é real e do que é imagético em uma obra de arte. A arquitetura típica das igrejas e suas abóbadas, por exemplo, foi o pano de fundo ideal para que artistas pudessem se aventurar em pinturas e desenhos, trabalhando perspectivas que “aumentavam” o espaço interno bidimensional das cúpulas e davam uma tridimensionalidade fantástica ao resultado final da obra, onde um céu aberto poderia ganhar camadas e mais camadas de planos desenhados, mas que facilmente transpareceria uma realidade tão fidedigna que a pintura, ainda que com elementos míticos, pudesse enganar os olhos de quem a visse.

    Com a moda não foi diferente. A fim de trabalhar a atividade visual aguçando a criatividade de quem cria, mas também de quem vê a criação, o surrealismo inspirado pela psicanálise e por Freud foi um movimento ímpar para a incorporação do trompe l’oeil no começo dos anos 20 que, à época, era uma resposta ao racionalismo excessivo que se dava até então. Nomes como René Magritte e Salvador Dalí foram fundamentais para a migração do surrealismo e do trompe l’oeil para a moda, principalmente quando lembramos do elo entre Salvador Dalí e a maior expressão do surrealismo na moda na história: Elsa Schiaparelli.

    vestido-esqueceleto-elsa-schiaparelli

    A mente e as mãos inquietas de Elsa não somente produziram peças que se debruçavam sobre a ideia do trompe l’oeil – como em um suéter preto com um laço de gravata branco – como também foram capazes de realizar collabs com Dalí, como o vestido em crepe preto onde na altura das costelas e na extensão da coluna protuberâncias alusivas a esses ossos foram incorporadas à peça, como se elas saltassem violentamente de dentro do corpo.

    Desde então, não apenas Schiaparelli mas muitas outras marcas ao redor do mundo trabalham o trompe l’oeil como um recurso estilístico que busca inquietar, intrigar, colocar fora do lugar comum e questionar o que é real e o que não é.

    Entre os exemplos, estão as peças em malha de tricô do inglês John Carr na década de 60 até coleções como o Pre-Fall 2022 da MM6 Maison Margiela; a colaboração de Lotta Volkova com Jean Paul-Gaultier; e os mini ponchos que simulam golas de casaco de alfaiataria na coleção de Outono 2022 da Loewe.  Todas essas referências são apenas amostras de como o trompe l’oeil vem sendo trabalhado onde a própria realidade bem à frente dos nossos olhos parece ser cada vez mais surreal.

    Balmain, jean Paul gaultier por Lotta Volkova e y-project
    Balmain, jean Paul gaultier por Lotta Volkova e y-project

    O handmade e a experiência sensorial do toque

    Mas não somente o olhar é explorado pela moda atualmente. Tocar o tecido da peça é uma uma experiência inerente ao ato de vestir. O toque hoje tem uma função muito mais afetiva do que necessariamente determinar o quanto essa peça é funcional ou não.

    Do crescimento do slow fashion ao isolamento social imposto pela pandemia da Covid19, a moda se viu assolada por uma onda de afetos que fez crescer em 91,4% a venda de pijamas e moletons de abril de 2020 a março de 2021, segundo estudo do Google no segmento Beauty e Fashion Trends.

    O motivo? O conforto proporcionado por essas peças e a sensação de abraço e afago que elas trazem e a sensação boa de passar os dedos por cima das texturas macias e acolhedoras.

    Diversas marcas têm apostado em um mix de materiais que conferem uma gama de sensações quando são vistos na passarela e, principalmente, quando são tocados. A Sacai, marca japonesa de Chitose Abe, é uma das grandes expoentes dessa vertente fashion onde o casual encontra o formal e explora tecidos aparentemente “inconciliáveis” como poucos conseguem fazer. Conjuntos que mesclam tricô, lã, algodão e chiffon plissado são prova dessa imersão sensorial.

    sacai inverno 2014, 2018 e 2016
    sacai inverno 2014, 2018 e 2016

    O sensorial made in Brasil

    Essa experiência também é muito latente no ‘fazer’ moda do brasileiro David Lee, cearense que com um olhar contemporâneo aguçado, trabalha códigos regionais do Nordeste, como o crochê manual, mesclado à peças de alfaiataria. Cada coleção de David é cheia de significados que inclusive relacionam-se a afetos, sentimentos e a essa experiência do vestir não apenas como um ato automático do cotidiano.

    Outros nomes que trabalham muito bem em suas coleções essa aventura sensorial do toque e do olhar são João Pimenta e Ronaldo Fraga.

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    David lee e João Pimenta

    João trabalha tanto com tecidos naturais quanto com mesclas e materiais tecnológicos. Ele se debruça sobre a silhueta do homem e da roupa masculina num jogo muito interessante que funciona como um laboratório onde os experimentalismos vão do material usado nas peças até a forma que elas assumem.

    Já Ronaldo Fraga em 2019, ao abordar as diversas ideias de violência, partindo inicialmente do mural “Guerra e Paz” de Portinari, apresentou peças em um patchwork de jeans, algodão, cordas e crochê que elucidam essa dualidade visual e tátil do sentido de paz, onde muitas das peças eram apresentadas propositalmente sem acabamento. A cereja do bolo da coleção ficava por conta de estampas que mostravam sangue, a imagem de um Jesus crucificado, pedaços do próprio mural de Portinari e adereços, como capacetes de guerra, ora com manchas de sangue, ora com adornos como a pomba da paz, flores, penas, plumas coloridas e laços de fita.

    Nesse sentido, muito do que se produz na moda são convites a essa experiência do cérebro ligado, olhos fechados ou não, mãos atentas e uma disposição ao sentir.

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