Por Paula Rita Saady, em Paris
O brasileiro Pedro Lourenço se consagra em Paris mostrando amadurecimento com uma coleção que consegue equilibrar seu estilo com algumas das vontades da consumidora final.
A silhueta é gráfica, já uma característica de seu trabalho, mas desta vez as formas arquitetônicas ganham uma bossa em peças bicolores de recorte redondo. “Essa mulher sai da cidade apocalíptica e encontra refúgio no campo. É uma coleção de opostos”, explica o estilista ao FFW. “Queria a forma quadrada, mas de maneira diferente e por isso sobrepus círculos gigantes aos desenhos para criar os recortes”, completa.
A dualidade estava presente na coleção: saias metade plissada, metade lisas, mix de cores e tecidos brilhosos e foscos, esportivos e sofisticados, tendo como melhor exemplo o casaco acinturado com aplicações de doudoune (aquele efeito acolchoado dos casacos de ski) e veludo. “Fica claro que houve uma reflexão profunda entra a natureza e o urbano” disse a blogueira Susie Bubble ao FFW.
Pedro também se aplicou em estampas nada óbvias, resultado de uma parceria com o artista russo Konstantin Trubkovich. Sua mistura de pintura e imagens em VHS aparece em estampas diáfanas de interferências que, na organza transparente, causava um efeito tromp l’oeil, com destaque para a estampa de cavalo. Era uma imagem mítica, como num sonho nostálgico, uma imagem de televisão antiga em que o desejo é mergulhar, sair do concreto para um universo sinuoso e sensual. “Eu adorei as estampas. A pesquisa foi muito boa, estou impressionada”, disse Sarah Lerfel, da multimarcas Colette.
“Foi a melhor coleção dele, podemos sentir a evolução do trabalho”, disse o editor Hammish Bowles, da “Vogue” americana, que deixou a sala de desfiles sorrindo.