por Paula Rita Saady, em Paris
*Em tempo: Bethy Lagardère, Paulo Borges e o portal FFW promovem palestra de Jean Paul Gaultier no Rio de Janeiro, no dia 10 de outubro. O evento, gratuito, será uma ótima oportunidade para conhecer melhor o estilista, que falará sobre sua trajetória na moda. Fique ligado no FFW, que logo mais divulgaremos outras informações e abriremos as inscrições para a palestra.
O estilista Jean Paul Gaultier apresentou no sábado (01.10) em Paris um desfile que questionava a atual imagem de moda, de forma bem humorada.
“Não quero fazer roupas apenas para profissionais da moda, busco algo mais real e intimista, para aproximar o público das roupas”, contou em entrevista exclusiva ao FFW.
Como nas apresentações de alta costura nos anos 50, não havia música. No lugar disso, um palco com a apresentadora Charlotte Le Bon, ex-garota do tempo do Canal+. Ela apresentava as modelos, descrevia os looks (que tinham nome próprio), e falava um pouco do gosto de cada modelo. Algo assim: “Look 55: Tonight is the Night, Anastasia em um vestido de jérsei plissado, seu prato preferido é frango frito e se fosse um homem ela seria James Dean”. Hilário, mas nem todos entenderam.
No fundo do palco, uma espécie de camarim aberto, em andaimes, onde víamos Gaultier e sua equipe, além das modelos trocando de roupas. “Queria humanizar as modelos, falando um pouco da personalidade de cada uma”, explicou.
“Até na beleza tentamos respeitar o estilo de cada uma, também utilizei mulheres de verdade, não só modelos.” Algumas das não-modelos eram performers burlescas, tatuadas da cabeça aos pés, o que dispensava o body com estampa tattoo para desfilar os sofisticados vestidos de festa. “A tatuagem não é mais símbolo do underground, ela é mainstream, quase um item da alta sociedade”.
A campanha da marca também era feita durante o desfile, em um cenário estúdio montado no centro da sala, onde as modelos paravam para serem clicadas pelo fotógrafo Miles Aldridge.
Segundo ele, a apresentação foi uma forma de re-conexão com a realidade de uma roupa de verdade, do savoir faire de uma peça, de uma campanha, de um universo, e isso ele tem de sobra.
“É estranho ver uma roupa na passarela, e 5 minutos depois já está na internet, no facebook, no twitter. Parece que as pessoas estão querendo acelerar o tempo, antecipar o futuro, isso para mim é o medo da morte. Eu quero estar no presente”.
E com tantas marcas preferindo trabalhar com equipe de estilo, será o fim da assinatura do estilista? “Estamos em um momento de grandes grupos de investimento e eles não têm muito interesse em desenvolver esse tipo de personalidade. É uma época de menos criatividade”. Ele é um dos poucos que ainda possuem esse universo onírico forte, que aproxima a moda da obra de arte. “Sou um dos últimos dessa geração.”
Gaultier estará no Brasil no dia 10 de outubro para apresentar o documentário “Jean Paul Gaultier ou les codes bouleversés” no Festival do Rio. O filme é dirigido pela ex-modelo e musa Farida Khelfa, que acompanhou durante um ano seu processo de criação.
“Adoro o Brasil, mas faz oito anos que não vou para lá. Dessa vez quero me inspirar muito com a beleza do Rio de Janeiro e também ver um pouco do cinema brasileiro”.
E quanto à abertura de uma loja no Brasil? “Sei que o Brasil está no foco das marcas de luxo, mas ainda não tenho planos de abrir loja por lá”, confessa.
Vamos cruzar os dedos para que ele mude de ideia.