A quinta edição do Pense Moda começou terça-feira (04.10) no MuBE (Museu Brasileiro de Escultura), em São Paulo, com um mix bacana de profissionais renomados de vários setores do mundo da moda, além de muitos estudantes e jornalistas.
Com a casa cheia, o primeiro evento da noite foi a palestra de Cécile Coulot, gerente de coleções de acessórios femininos da Lanvin, que falou sobre esse segmento da indústria da moda e, mais especificamente, sobre o trabalho que ela desenvolve dentro da maison. Cécile já havia adiantado um pouco sobre sua história em entrevista ao FFW, e foi legal vê-la falar novamente com humildade e pé no chão. Em sua palestra, ela apresentou os bastidores do trabalho diário que reflete a filosofia da Lanvin; uma das primeiras coisas que ela disse, por exemplo, é que Jeanne Lanvin foi a primeira mulher a fundar uma grife, o que ela considera importante lembrar, por acreditar que isso faz parte da herança da marca.
Em uma apresentação simples, Cécile mostrou fotos de vários processos do desenvolvimento de coleções de acessórios na Lanvin, que ela explica, representam 50% dos negócios da grife, e tiveram um crescimento de 63% em relação ao ano passado. Ela fala também que atualmente são lançadas quatro coleções de acessórios por ano, o que significa que a equipe tem apenas cinco semanas para trabalhar, do rascunho até a apresentação final. Entre a palestra e as perguntas de Karina Mota, da Surface to Air Brasil, do público presente e dos internautas, algumas das falas mais interessantes de Cécile são sobre a filosofia de trabalho da Lanvin e do setor de luxo em geral. Ela diz, por exemplo, que para uma grife de luxo, o que importa não é criar tendências, que mudam a cada temporada, mas fazer peças que reflitam a identidade da marca — ela explica que é por isso que as campanhas da Lanvin nunca são focadas nos produtos, mas na apresentação do universo da grife. Sobre fast-fashion vs. mercado de luxo, ela afirma: “Hoje a diferença não é mais o timing – nós lançamos quatro coleções por ano! – e sim, a qualidade. E nós mantemos a nossa identidade. É possível ver uma ligação entre as coleções, dá para ver uma evolução. No fast-fashion não, é só a tendência, a tendência”. Sobre as cópias no mundo da moda, ela opina: “Há muitas cópias, mas elas não têm a mesma qualidade; não temos medo delas. Quem compra essas cópias não é o nosso consumidor. E faz parte do sucesso; se há gente te copiando, é porque você está dando certo”.
A palestra de Cécile Coulot foi seguida por uma mesa-redonda sobre a criação de imagens de moda, e contou com um time de peso, representando vários setores criativos: os fotógrafos Bob Wolfenson e Tavinho Costa; os editores de moda Flavia Pommianosky e Paulo Martinez; Graziela Peres, diretora criativa da “Mag!”; e Sebastian Orth, da loja-conceito Surface to Air. A conversa, mediada pelo jornalista André do Val, começou sobre o processo de criação de uma imagem de moda, e Paulo Martinez falou sobre a importância da pesquisa durante essa etapa. “Para criar uma imagem de moda, tem que ter pesquisa. Se você não viu o filme, não leu o livro, não viveu, não viajou, não vai criar uma imagem que se perpetue. Essas imagens são aquelas que são pensadas como funções sociais, e não com a finalidade de vender mais ou vender menos”.
O assunto passou para Bob Wolfenson defendendo que a fotografia de moda é como outras fotografias — tem que ser “tocante, transcendente, provocativa”, e só se deveria saber que ela é de moda quando se olha os créditos. Flavia Pommianosky falou sobre o equilíbrio entre o comercial e o conceitual, e afirmou que, por um lado, é necessário entender o lado comercial, mas que por outro, não se deve presumir que as leitoras não sabem ler uma imagem de moda. O debate enveredou então pela tecnologia, com André do Val perguntando se Bob Wolfenson tem Instagram, arrancando risos da plateia (a resposta foi não); e Graziela Peres falando sobre o iPad, recurso que já está sendo explorado pela “Mag!”, e afirmando, sobre as novas tecnologias, que “as coisas não são substituídas pelas outras; elas se transformam, e se complementam”. Sobre os filmes de moda, as opiniões se dividem: para Wolfenson, o formato perde a força da fotografia porque o filme “deixa de ser aquele momento, aquele instante estático, flagrante”.
A respeito da democratização da tecnologia, Tavinho Costa define: “A tecnologia dispersa, mas o mercado seleciona”, ao que Wolfenson elabora: “Há os dois lados – desenvolve-se muita coisa boa, descobre-se novos talentos, mas ao mesmo tempo, nunca teve tanta foto ruim! Fotos ruins de moda e fotos de modas ruins”. Quando alguém pergunta o que poderia ser feito para melhorar o mercado editoral de moda no Brasil e a resposta de Flavia Pommianosky e Paulo Martinez é “pesquisa e falta de preguiça”, o debate esquenta. Sebastian Orth posiciona-se contra a pesquisa, por acreditar que ela influenciaria demais o trabalho final, e que o que é necessário é criar algo novo – comentário que esquentou os ânimos dos demais participantes da mesa. Paulo Martinez questionou: “O que é o novo hoje? Ninguém faz nada novo do além! Você não cria uma coisa nova se não tem pesquisa”. Graziela Peres esclareceu que o termo “pesquisa” não se refere simplesmente a estudar o que foi feito no exterior, mas se aprofundar no universo de determinado objeto: “Por exemplo, se você vai falar de Salvador, é viajar ao lugar, conhecer as locações, ir além do clichê, ir além da música mais famosa” – concluindo a discussão em que as partes “concordaram em discordar”.