A imagem de abertura desta matéria não poderia descrever melhor a vida do húngaro Robert Capa, uma das personalidades mais importantes da fotografia. Tal foto foi clicada durante o desembarque das tropas dos Aliados na praia de Omaha durante a invasão da Normandia, no que ficou conhecido como o Dia D da Segunda Guerra Mundial. Lado a lado com soldados carregando rifles e granadas, Capa carregava somente sua câmera. Da mesma maneira, a frase acima também poderia ser usada para definir sua vida, exceto por alguns fatos, como o de já ter fotografado uma campanha da Christian Dior em 1947, de ter recusado um casamento com Ingrid Bergman e de ter sido a influência de Hitchcock para “Janela Indiscreta” (1954).
Sempre à margem do perigo – às vezes literalmente, como no caso da primeira imagem – , Capa fotografou cinco grandes conflitos do século 20, como a Guerra Civil Espanhola, a Segunda Guerra Sino-Japonesa, a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Árabe-Israelense e a Primeira Guerra da Indochina, sempre levando consigo o lema “Se as suas fotografias não estão boas o suficiente, você não está perto o suficiente”. Juntamente com Cartier-Bresson, fundou em 1947 a Magnum Photos, a mais importante agência de fotojornalismo do século passado.
Batizado como Endre Ernő Friedmann, o nome Robert Capa surgiu de uma artimanha conjunta com sua namorada na época, a também fotojornalista de guerra Gerda Taro, para americanizar e consequentemente vender melhor seu trabalho. Gerda também estava cobrindo a Guerra Civil Espanhola quando, ao subir em um carro com soldados feridos, sofreu um ataque: o carro foi atropelado por um tanque, o que levou à sua morte. Capa sofreu imensamente, mas não abandonou sua paixão por cobrir guerras.
Em 1945, Ingrid Bergman viajou pela Europa, onde acabou conhecendo o fotógrafo no Hotel Ritz, em Paris. Na época, a premiada atriz sueca era casada com Petter Lindström, o que não a impediu de começar um caso com Capa. Um ano depois, ela pediu para que ele a acompanhasse em Hollywood, onde trabalhou por algum tempo na indústria cinematográfica, inclusive fazendo fotografias do set de filmagens de “Interlúdio” (1946), de Alfred Hitchcock. O famoso diretor acabou observando de perto a relação dos dois e usou o romance como fonte de inspiração para o seu “Janela Indiscreta” em 1954.
Apesar da gritante mudança de estilo de vida e da sugestão de Ingrid Bergman de se divorciar para que pudessem se casar, Capa sentia que não pertencia àquele mundo. O relacionamento dos dois terminou quando Robert foi chamado para viajar à Turquia. Mesmo assim, Capa não mergulhou completamente nas trincheiras dos campos de batalha. Em 1947, ele fez algumas fotos do New Look de Christian Dior.
Com todo o perdão possível para a expressão “casado com o trabalho”, talvez este seja um dos casos em que esta mais se aplique, inclusive na promessa do “até que a morte os separe”. Em 1954, aos 40 anos de idade, Capa estava cobrindo a Primeira Guerra da Indochina quando resolveu descer do carro para fotografar e pisou em uma mina. Perdeu a perna, foi levado ainda com vida a um campo médico, mas foi declarado morto quando chegou. Poeticamente, seja verdade ou rumor, dizem que morreu ainda segurando sua câmera.
Robert Capa mudou a maneira de fazer fotojornalismo. Suas qualidades como fotógrafo são quase paradoxais. Com coragem e bravura suficientes para se lançar em meio a tiros e corpos no campo de batalha, também foi necessária uma frieza técnica para conseguir fotometrar e enquadrar e assim traduzir um acontecimento histórico em uma imagem poética bidimensional em preto e branco. Citando novamente seu lema “Se as suas fotografias não estão boas o suficiente, você não está perto o suficiente”, é possível dizer que ninguém nunca chegou tão perto.
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