Crise e contraste: enquanto Gucci afunda, Hermès segue em alta, e Prada vive entre extremos

Crise e contraste: enquanto Gucci afunda, Hermès segue em alta, e Prada vive entre extremos
A Kering, grupo francês dono da Gucci, anunciou nesta terça-feira (29) uma queda de 15% nas vendas do segundo trimestre de 2025, refletindo a desaceleração da demanda por produtos de luxo. Responsável por quase metade da receita total da empresa, a Gucci viu suas vendas caírem 25% no período, totalizando 1,46 bilhão de euros.
Em meio à instabilidade, o grupo tenta se reestruturar. Em junho, a Kering anunciou a nomeação de Luca de Meo — veterano da indústria automobilística — como novo CEO, com início previsto para 15 de setembro. A chegada de De Meo trouxe um respiro momentâneo nas expectativas do mercado, mas o cenário é desafiador: além da desaceleração chinesa, um dos principais motores do luxo, a empresa encara a perspectiva de tarifas de 15% sobre importações nos Estados Unidos — o que deve impactar diretamente os preços e margens de lucro.
O contraste com a Hermès é gritante. Enquanto rivais sofrem, a fabricante das desejadas bolsas Birkin registrou um aumento de 9% nas vendas no mesmo período, totalizando 3,9 bilhões de euros até o fim de junho. O desempenho confirma o apetite contínuo dos consumidores de alta renda pelos produtos da casa francesa, que tem ido contra a maré de negativa no setor.
Durante coletiva com jornalistas, Axel Dumas, presidente executivo da Hermès, afirmou que a empresa não planeja novos aumentos de preços para este ano, após uma elevação geral de 7% no mundo e de 5% adicional nos Estados Unidos. Segundo ele, esses reajustes já seriam suficientes para compensar o impacto da tarifa de 15% acordada entre o governo Trump e a União Europeia.
Já o grupo Prada vive um impasse: o grupo divulgou resultados mais fracos que o esperado no primeiro semestre, com alta de 9% na receita líquida (em taxas de câmbio constantes), mas queda de 2% nas vendas da Prada. As ações da empresa acumulam desvalorização de cerca de 22% em 2025, e a própria companhia reconheceu que há turbulências à vista no curto prazo (nenhuma surpresa até aqui). Por outro lado, a Miu Miu segue em ascensão meteórica, com crescimento de 49% no período, além de desempenhos sólidos no Oriente Médio e nas Américas.
Em paralelo, o mercado segue especulando sobre a aquisição da Versace por 1,25 bilhão de euros — aposta que muitos veem com otimismo, mas que levanta dúvidas: será mesmo esse o movimento capaz de consolidar um novo capítulo para o conglomerado? A dúvida persiste.
Com propostas, estratégias e públicos cada vez mais distintos, os grandes grupos de moda de luxo ilustram os caminhos divergentes do setor em 2025: de um lado, o desgaste simbólico e financeiro da Gucci, que enfrenta sua segunda tentativa de reposicionamento em três anos; de outro, a estabilidade quase imperturbável da Hermès, ainda ancorada na tradição, escassez e desejo. Entre eles, a Prada — dividida entre o colapso discreto da linha principal e o furor global de uma marca outrora secundária.