Quem foi André Leon Talley, e qual a sua importância para a moda?
O editor lendário e dândi imponente foi pioneiro ao ocupar espaços de poder na moda como homem negro, deixando um legado de representatividade e sofisticação.
Quem foi André Leon Talley, e qual a sua importância para a moda?
O editor lendário e dândi imponente foi pioneiro ao ocupar espaços de poder na moda como homem negro, deixando um legado de representatividade e sofisticação.
Na noite desta segunda (05.05), muitas menções foram feitas ao estilo de André Leon Talley no Met Gala 2025, algumas servindo até de inspiração para looks desfilados no tapete vermelho (que, neste ano, detalhe, era azul). Na nova exposição do Instituto de Moda do museu Metropolitan, em Nova York, dedicada ao dandismo negro, muitas das roupas e acessórios que serviram de ponto de referência para o tema da mostra vieram do guarda-roupa de Talley. Quem diz isso é a própria curadora da exposição, Monica L. Miller, e autora do livro que inspirou o tema do Met Gala 2025. “Tenho pensado constantemente em seu impacto e legado. As roupas e os acessórios de André aparecem em vários lugares da exposição, o que realmente nos permite ver como um homem elegante da moda, com um certo tipo de orgulho sofisticado e ironia alegre, exemplifica alguns dos aspectos do dandismo que destacamos”, ela afirma. A figura imponente, alta e bem-vestida de Talley, morto em 2022, ficou conhecida por quem acompanha a moda em suas fotos em primeiras filas de desfiles internacionais – inúmeras delas ao lado de Anna Wintour. Muitos também sabem que foi uma figura relevante do mercado, trabalhando por anos ao lado da diretora da Vogue América. Mas o legado do editor para a moda contemporânea é muito maior.
Amigo e confidente de nomes que ajudaram a escrever a história da moda das últimas décadas — gente como Yves Saint Laurent, Karl Lagerfeld e Tom Ford —, André Leon Talley começou sua carreira como editor-assistente da mítica Diana Vreeland, a mulher que trouxe a cultura do underground e a estética do feio para as páginas da Vogue. Ao contrário dela, Talley era um “faminto por beleza”, frase que disse no documentário The September Issue (2009) e que tornou sua marca registrada. Em busca pela beleza na moda, impulsionou a carreira de estilistas como John Galliano e o sapateiro Manolo Blahnik, enfrentou o racismo estrutural do setor ao ser, inúmeras vezes, o único negro em um cargo de poder. Um perfil seu na The New Yorker, em 1994, era direto: “The Only One”, título que, além de destacar seu talento único, também ecoava a solidão de sua representatividade.
Talley foi um dos últimos grandes editores de moda a desempenhar o papel de “personagem” editorial no sentido mais clássico — um intelectual que via o estilo pessoal como forma de devoção e o vestir como performance cultural. Combinava erudição (formado com mestrado em estudos franceses pela Brown University), gosto refinado e teatralidade: desfilava suas capas, caftãs e estolas pelas semanas de moda como se fosse uma figura saída de um romance oitocentista. Mas por trás dos gestos grandiosos havia substância: ele conhecia profundamente a história da moda, do nome do cabeleireiro de Maria Antonieta ao simbolismo do ouro nos túmulos napoleônicos. Era do time que acreditava que não há presente na moda sem compreensão do passado.
Em suas memórias, The Chiffon Trenches (2020), Talley expõe com franqueza os custos emocionais e profissionais de ser o único corpo negro em tantos espaços brancos. Para além da aparência exuberante, seu dandismo representava resistência estética — uma forma de afirmar sua existência em ambientes que tentavam invisibilizá-lo.