O que é moda autoral? O FFW explica
Da alta-costura às criações independentes, o termo circula nas redes sociais; entenda o que é e quais são os diferenciais para uma marca ou designer ser considerada autoral.
O que é moda autoral? O FFW explica
Da alta-costura às criações independentes, o termo circula nas redes sociais; entenda o que é e quais são os diferenciais para uma marca ou designer ser considerada autoral.
A moda autoral refere-se a criações únicas, que nascem da visão individual de um designer ou marca e carregam identidade, pesquisa e experimentação. Frequentemente, essas coleções dialogam com histórias locais, artesanato, memória e contextos sociais. Para Gabriela Penna, mestra em moda pelo Senac São Paulo e doutora em Arte e Cultura Visual pelo UFG, a moda autoral é, acima de tudo, sobre identidade criativa. “Ela expressa um ponto de vista único, quase como uma assinatura reconhecível do designer ou marca”, explica.
Esse processo, segundo ela, envolve pesquisa e um olhar experimental que garante exclusividade e consistência às coleções – seja no uso de técnicas têxteis, design de superfície, modelagens ou materiais inovadores.
Gabriela também destaca que uma das características da moda autoral é a escala reduzida e o controle dos processos. “Enquanto a moda comercial busca atender a tendências e demanda de mercado, com foco em preço e acessibilidade, a moda autoral produz em menor quantidade, com mais cuidado e atenção a cada etapa”, afirma. Para ela, valores como exclusividade, identidade e criatividade são inegociáveis nesse universo.
A Comme des Garçons, de Rei Kawakubo, é um dos grandes nomes do high fashion, reconhecida por sua moda autoral. Sua abordagem vanguardista e conceitual vai além do caráter puramente comercial, inovando na indústria e explorando conceitos como desconstrução, assimetria e volumes arquitetônicos, em vez de simplesmente seguir tendências, como é comum na moda comercial.
Autoral no Brasil
Uma das primeiras grandes estilistas brasileiras a trabalhar com moda autoral foi Zuzu Angel nas décadas de 60 e 70. Zuzu Angel foi uma transgressora. Numa época em que a moda era importada de Paris, ela foi na contramão ao criar roupas originais e com toques de brasilidade e até engajamento político – denunciando a ditadura militar por meio da moda.
Com originalidade sempre presente em suas criações, a estilista começou com saias feitas de tecidos de colchão e, na metade dos anos 1960, causou surpresa ao tingir rendas no mesmo tom de tecidos nobres e aplicá-las em roupas. Até então, o material era utilizado apenas em panos de cozinha.
Assim como Zuzu respirava originaliedade, nomes como Ronaldo Fraga, com suas coleções que resgatam histórias e contextos sociais brasileiros; Fernanda Yamamoto, que aposta em experimentação têxtil e processos colaborativos; e Apartamento 03, conhecida por seu trabalho manual acabamento primorosos e peças atemporais, são exemplos da moda autoral brasileira.
Marcas independentes, espalhadas por diferentes estados, também reforçam o papel do autoral como expressão cultural e criativa no país. E eventos voltados para essa potência criativa, como a Casa de Criadores e o Dragão Fashion Festival ajudam a fomentar olhares mais frescos e autorais sobre a moda brasileira.