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    O movement director brasileiro que está moldando uma nova profissão cada vez mais presente em campanhas, comerciais e desfiles

    O movement director brasileiro que está moldando uma nova profissão cada vez mais presente em campanhas, comerciais e desfiles

    POR Vinicius Alencar

    Baiano de Salvador, radicado nos Estados Unidos, Jorge Dorsinville atua como movement director – ou diretor de movimento, um termo ainda pouco compreendido no Brasil que, na prática, descreve o profissional que idealiza e dirige os movimentos que vão ser executados (geralmente pelo modelo, na moda) numa campanha em vídeo, num desfile, num short film ou mesmo num ensaio fotográfico. No caso de Jorge, seu trabalho se torna especial ao carregar algo ancestral, espiritual e absolutamente contemporâneo.

    Ao lado de nomes como Pat Boguslawski – que desde 2018 vem ajudando a consolidar essa profissão no cenário da moda, colaborando com marcas como Margiela (do andar marcante de Leon Dame e Colin Jones ao desfile despedida de alta-costura do Galliano) – Jorge tem contribuído para que o movement directing seja reconhecido como uma linguagem artística essencial. Seu trabalho parte do corpo, mas vai além da estética: ele vê o movimento como linguagem, memória, política e emoção.

    A inquietação o levou da Bahia direto para Nova York. “Salvador me deu fé, ritmo, presença. Mas eu precisava de um lugar onde pudesse expandir. Queria experimentar, misturar linguagens.” Na capital baiana, a multiplicidade era encarada com desconfiança. “No Brasil, diziam que um dançarino não podia ser ator. Que era preciso escolher. Mas nunca vi separação entre movimento, imagem, presença. Para mim, é tudo uma coisa só.” Em Nova York, encontrou um ecossistema criativo mais disposto a abraçar esse hibridismo. E ali, consolidou sua linguagem.

    Na prática, isso significa que, mesmo dentro de contextos superformatados, como campanhas de moda ou comerciais publicitários de grandes marcas, Jorge encontra espaço para o real. “A autenticidade não vem de romper o formato”, acredita, “mas de trazer uma energia verdadeira para dentro dele”. Ele observa como cada corpo respira, como se posiciona fora do ensaio, como reage ao silêncio. A partir daí, constrói gestos que contam histórias. “Mesmo que o projeto seja estilizado até o último fio de cabelo, o público sente quando algo é de verdade. E isso muda tudo.”

    Esse tipo de sensibilidade exige não só talento, mas entrega total. “Todo projeto é o mais desafiador”, diz. “Porque cada um me leva a um território que eu ainda não conheço.” Ele não se ancora em fórmulas: prefere o risco. “Eu não chego com respostas. Chego como aluno. O desafio me obriga a crescer. A mágica está justamente no que é incerto.”

    Sua linguagem, hoje reconhecida internacionalmente, nasce dessa mistura entre disciplina artística, ancestralidade e escuta. Jorge cresceu em um terreiro de Umbanda e aprendeu desde cedo que movimento pode ser oração, invocação, força. Essa presença espiritual permanece como base silenciosa de tudo que faz. “Cada gesto carrega uma história, uma energia, uma origem”, afirma. “Meu trabalho é liberar isso.”

    Ao ocupar espaços criativos como a moda e a publicidade assinando campanhas para Balmain e editoriais para revistas renomadas, Jorge não busca apenas beleza, mas significado. Ele cria com o corpo e por meio dele, com atenção, intuição e um desejo profundo de conexão. E talvez por isso seu trabalho permaneça, reverbere, crie impacto. Porque no fim, o que ele oferece não é apenas direção de movimento, mas direção de presença. Algo difícil de conquistar, mesmo em tempos de superperformance. 

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