Nike Shox e o legado do 12 molas
Como o modelo virou ícone do funk, peça-chave do lifestyle nacional e (novo) hype fashion.
Como o modelo virou ícone do funk, peça-chave do lifestyle nacional e (novo) hype fashion.
Nike Shox e o legado do 12 molas
Como o modelo virou ícone do funk, peça-chave do lifestyle nacional e (novo) hype fashion.
Como o modelo virou ícone do funk, peça-chave do lifestyle nacional e (novo) hype fashion.
Muito mais que um tênis de corrida com molas no calcanhar (inicialmente ele foi desenhado para este fim), o Nike Shox atravessou décadas, fronteiras e contextos culturais para se tornar um dos calçados mais emblemáticos – e controversos – da virada dos anos 2000. De símbolo de inovação esportiva a item de desejo nos bailes de funk do Brasil, passando por subculturas européias, colaborações de peso na moda e status de hype internacional, o famoso ‘‘12 molas’’ vive hoje um novo momento: agora sob os holofotes do streetwear global.
Laura Budin revisita a trajetória do modelo – das quadras às passarelas – e investiga por que o Shox nunca deixou de ser relevante, mas está sendo (finalmente) reconhecido por uma nova geração de olhares fashionistas.
O início: um tênis nascido do futuro
A história do Nike Shox começa ainda em 1984, quando Bruce Kilgore – o mesmo nome por trás do Air Force 1 – teve a ideia de substituir o sistema de amortecimento a ar por colunas mecânicas inspiradas em propulsores espaciais. Foram mais de 16 anos de testes, protótipos e ajustes até que o modelo R4 chegasse ao mercado em 2000. Com uma estética futurista, sola prateada e amortecedores em vermelho vibrante, o R4 estreou como tênis de corrida de alta performance, trazendo ao pé a primeira tecnologia de ‘‘retorno de energia’’ da marca. Era um projeto para o amanhã – e talvez por isso mesmo, demorou a ser compreendido pelo mainstream. Mas encontrou, justamente nos ‘‘outsiders’’, sua casa.
O impacto global: das quadras ao underground
Foi Vince Carter quem deu ao Shox sua primeira grande vitrine cultural, ao cravar o famoso ‘‘Dunk da Morte’’ nos Jogos Olímpicos de Sydney usando o modelo BB4. O tênis ganhou status entre atletas e fãs da NBA, mas se espalhou para além das quadras: na Europa, virou símbolo de subculturas como o grime no Reino Unido e o universo hooligan no norte do continente. Em pouco tempo, versões como o TL (com molas por toda a sola) e o Ride 2 ajudaram a consolidar a estética ‘‘boing’’ como uma assinatura visual reconhecível e divisiva.
Brasil: a conexão com o funk e as ruas
No Brasil, o Nike Shox seguiu outro caminho. Longe das academias ou do basquete, o modelo encontrou na periferia e no funk um solo fértil para sua ascensão. MCs fizeram do tênis um símbolo de status e identidade nos bailes, com o icônico ‘‘12 molas’’ sendo usado em DVDs da Furacão 2000 e eternizado em letras de funk ostentação. Seu visual robusto, pouco convencional e tecnológico era o oposto da moda tradicional – e por isso mesmo, virou ícone.
O Shox chega à moda
Nos últimos anos, o cenário se inverteu: o que já era relevante nas quebradas começa a ser reconhecido pela moda global. Em 2018, a Comme des Garçons lançou sua versão do Shox TL. Depois, vieram a Supreme e o retorno do R4. Mas foi a estilista Martine Rose quem reposicionou o modelo como um verdadeiro statement, ao apresentar o mule de salto MR4 em collab com a Nike. O calçado, que misturava referências ao futebol britânico, alfaiataria e subcultura, foi usado por nomes como Kendrick Lamar e hoje ultrapassa cifras altíssimas em revendas. Em sua mais recente coleção de Verão 2026, Martine trouxe novamente o modelo, agora com uma nova cor, reafirmando sua permanência no jogo da moda.
Entre o passado e o presente: o Shox hoje
Mais de duas décadas depois de seu lançamento, o Nike Shox volta às vitrines e feeds como um símbolo de estilo, performance e história cultural. O modelo deixa de ser exclusivo de um território – sem nunca negar suas raízes – para se tornar parte da linguagem universal do streetwear. Esse movimento acompanha a força crescente do sportlife, estilo que conecta roupas esportivas, vivências periféricas e a sonoridade de cenas como o funk, o grime e o drill. Isso não significa que o Shox ‘‘saiu’’ da quebrada – e sim que a moda, finalmente, passou a reconhecer o que as ruas já sabiam há muito tempo.