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    Nail Art como Mídia: Cyshimi transforma técnica em expressão

    Artista multidisciplinar, cria a partir do corpo, mas também contra as imposições feitas,a unha detalhe às vezes invisível vira mídia, escultura, símbolo.

    Nail Art como Mídia: Cyshimi transforma técnica em expressão

    Artista multidisciplinar, cria a partir do corpo, mas também contra as imposições feitas,a unha detalhe às vezes invisível vira mídia, escultura, símbolo.

    POR Guilherme Rocha

    Com descendência de imigrantes chineses e taiwaneses, Cyshimi cresceu em São Paulo e encontrou na arte – e mais precisamente, na nail art – um caminho para lidar com questões de identidade, pertencimento e expressão. Começou deixando as unhas crescerem de forma natural, longa, torta, como quem recupera algo perdido e íntimo. O que era um gesto pessoal, depois virou uma linguagem.

     

    Hoje, Cyshimi desenvolve técnicas próprias, expande os limites da manicure e investiga as unhas como superfície de pensamento, comunicação e tecnologia. Em 2023 fez residência no Hybrid Body Lab, projeto dentro da Universidade Cornell, em Nova York, que investiga manifestações artísticas usando o corpo como base. Durante o período, colaborou com o artista Ikaro Cavalcante em projetos que exploravam as intersecções entre unha, arte e corpo expandido e realizou exposição de suas unhas.

     

    Mais do que adornos, Cyshimi trata suas unhas como esculturas portáteis que carregam narrativas visuais, políticas e afetivas. “O que me interessa não é a perfeição, mas a presença. Minhas referências vêm da escuta interna, da transformação constante que acontece dentro de mim.” A prática, portanto, não segue uma fórmula: ela muda, se adapta, se reconstrói, como o próprio corpo.

     

    Cyshimi também reflete sobre o papel das unhas como marcadores sociais, históricos e culturais. “As unhas representam identidade, resistência, comunidade. São uma linguagem visual que fala de outras formas de ser e habitar o mundo.” Essa perspectiva torna seu trabalho especialmente potente num momento em que tudo é imagem, mas nem tudo é sentido.

     

    Ao provocar novas maneiras de olhar para o corpo, Cyshimi propõe mais do que estética: propõe brechas, espaços de dúvida, possibilidades de reinvenção. “Nem tudo precisa ser bonito. Mas precisa dizer algo.”


    A seguir, leia a conversa de Cyshimi com à FFW. 

     

    FFW: O que acredita ser o seu diferencial? 

    Acredito que meu diferencial está em transformar algo tão tradicional quanto a manicure, uma profissão de décadas, baseada em técnicas muito específicas e frequentemente vista apenas como um serviço, em um campo expandido de criação. Criei minhas próprias técnicas, ultrapassando limites do que se espera dessa prática, para propor uma visão mais aberta, experimental e artística. Meu trabalho parte do desejo de expandir as possibilidades dentro do que se entende como nail art. Busco explorar caminhos menos convencionais, indo além da estética para também provocar conceitualmente, ao mesmo tempo que respeitando a história da profissão. 

     

    FFW: O que você enxerga como o seu olhar único dentro do que faz e como isso se manifesta no seu trabalho?

    Existe em mim uma vontade pulsante de expressar minha visão de mundo, de sempre experimentar com novas estéticas e técnicas. Sou apaixonada por moda e imagem e coloco essa paixão na criação das minhas unhas, que vão além do adorno, e se tornam extensão do corpo, escultura e narrativa. Eu mudo o tempo todo, o tempo todo… e preciso acompanhar a mudança interna que acontece gradualmente dentro de mim. Criando a partir do que me atravessa no momento. Meu olhar único vem dessa escuta interna e da liberdade que me dou para mudar.

     

    FFW: Existe uma intenção ou mensagem central que você busca passar em tudo o que cria?

    Acho que minha intenção não é exatamente transmitir uma mensagem direta, mas sim revelar mundos possíveis, abrir brechas, criar imagens que provoquem outros modos de ver e sentir. Existe uma veia por trás de tudo o que faço, uma pesquisa que às vezes aparece de forma mais explícita e, outras vezes, se esconde nas camadas, é uma relação entre o superficial e o profundo, e nessa tensão, meu trabalho se encontra.

     

    FFW:⁠ ⁠Você sente que o seu trabalho dialoga com alguma urgência do nosso tempo?

    Penso que uma das grandes questões do nosso tempo é a forma como o corpo é atravessado por cultura, sociedade e estética e, nesse sentido, falar sobre unhas é também falar sobre beleza, identidade e pensar nela além de uma ferramenta. A unha, que originalmente existia como uma proteção, uma extensão funcional do corpo, passou a ser embelezada, transformada em acessório, em símbolo. Me fascina como as unhas carregam tantos significados. Elas representam identidade, resistência, comunidade. São uma linguagem visual que fala de novas formas de ser e habitar o mundo. Através delas, penso o corpo não como algo fixo, mas como um território em constante reinvenção.

     

    FFW: ⁠Como funciona o processo de pesquisa para cada projeto?

    Procuro sempre me afastar de referências óbvias, especialmente de outras unhas que já existem. Prefiro buscar inspiração em outros campos, formas, texturas, sensações, narrativas. Quando começo um novo projeto, tento entender qual é o foco: se quero explorar a forma, criar uma escultura com uma silhueta ou estrutura que nunca vi antes, se quero trabalhar mais com superfície, texturas, desenhos, elementos 2D, ou se parto de um conceito, de uma ideia ou narrativa que quero traduzir visualmente.

    Antes de começar a produzir, sempre rascunho. Preciso ver no papel o que está na minha cabeça, é o momento em que as ideias ganham forma e começam a se organizar.

     

    FFW: ⁠Como você lida com bloqueios criativos ou momentos em que as ideias não fluem?

    Acredito que a pausa é fundamental. Criar não é um processo mecânico, por mais que existam métodos que ajudam a organizar o fluxo criativo, às vezes é preciso simplesmente parar, viver, sentir, se nutrir de novas experiências e referências. Só assim é possível ter algo novo a dizer. O bloqueio, muitas vezes, é um sinal de que algo precisa ser reorganizado internamente antes de se transformar em forma.

     

    FFW: ⁠Quais são os desafios de criar em um momento em que tanto conteúdo e imagens são produzidos em alta velocidade?

    Honestamente, me sinto parte dessa alta velocidade. Existe uma chama dentro de mim, um impulso criativo constante, com muitas ideias que quero transformar em realidade, e realizar essas ideias me traz um sentimento profundo de satisfação. Ao mesmo tempo, reconheço que nem tudo precisa ser imediato. Algumas criações pedem tempo para amadurecer, para encontrar sua forma no tempo certo. O desafio está justamente em equilibrar esse desejo de produzir com intensidade e a importância de respeitar o ritmo de cada processo.

     

    FFW: ⁠O que você espera provocar ou despertar em quem consome o que você cria?

    Acho que a própria pergunta já é parte da resposta, existe algo intrinsecamente provocativo no meu trabalho. As unhas, como eu proponho, funcionam como uma nova mídia, e o que desejo é justamente romper com a ideia de que elas são apenas um serviço. Espero que, ao se deparar com o que crio, a pessoa reconheça as unhas como arte, mesmo que não ache bonito, mesmo que cause estranhamento. O que me interessa é despertar algo, provocar uma reação, uma nova forma de olhar.

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