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    Jonathan Anderson e a Industrialização da Criatividade

    Na sua coluna, Bia Nardini reflete sobre a chegada de Jonathan Anderson à Dior.

    Jonathan Anderson e a Industrialização da Criatividade

    Na sua coluna, Bia Nardini reflete sobre a chegada de Jonathan Anderson à Dior.

    POR Redação

    Por Bia Nardini

    Após Jonathan Anderson ser anunciado como novo diretor criativo da Dior feminina, masculina e de alta costura, um dado chamou atenção: a quantidade de coleções a serem assinadas pelo designer anualmente. São 10 para a Dior, seis para a JW Anderson e duas  para a colaboração entre sua marca homônima e a gigante japonesa Uniqlo. Assim, contabilizadas as 18 coleções por ano, a indignação digital entrou em foco. Sem duvidar da capacidade criativa do profissional, seria essa a melhor escolha? O mercado de moda não aprendeu nada com seu passado?

    O ano era 2010, quando Alexander McQueen tirou a própria vida após um estopim emocional: o falecimento de sua mãe. Apesar da existência de um gatilho final, é evidente a sobrecarga à qual foi submetido, assinando 14 coleções por ano para marcas fundadas por ele, mas sob controle majoritário do Grupo Gucci (atualmente Kering). Uma ascensão meteórica, regada a grandes conflitos e pressão externa — em especial durante seus anos de Givenchy, quando enfrentou Bernard Arnault, dono do grupo proprietário da marca, que visava o comercial acima do conceitual, enquanto tinha uma das maiores potências criativas sob seu comando.

    Apenas  um ano depois da morte de McQueen, em 2011, John Galliano colapsa. Sem qualquer intenção de justificar suas falas antissemitas, é fato que todo o escândalo escancara a falta de controle de conglomerados gigantes, que exigem demais e apoiam de menos. Nesse momento, o profissional assinava 32 coleções por ano e, assim como McQueen, antes de qualquer crise profissional, já apresentava sinais visíveis de exaustão, vício, depressão e colapso mental. Mas esses sinais pareciam pouco perto da visibilidade que seu trabalho gerava — até tudo ruir.

    Mais de uma década depois, um dos maiores criativos do momento começa a ser submetido à mesma crescente. Após provar seu potencial ao longo de 11 anos na Loewe e 17 anos à frente de sua marca homônima — criando um total de 10 coleções anuais ao longo de parte desse período —, a expectativa é alta, mas ignora a importância do ócio criativo durante uma epidemia de burnout. Ainda que o diretor criativo não seja o responsável por sentar e desenhar cada uma das peças, sua entrega mental é expressiva, assim como sua responsabilidade financeira e, consequentemente, a pressão a que é submetido.

    Considerando esses fatos, apesar de o cenário parecer desanimador, ainda há esperanças. Agora, Anderson se torna o profissional mais prolífico do mercado após o falecimento de Karl Lagerfeld, um exemplo de sucesso apesar dos afazeres excessivos. Responsável pela Chanel, Fendi e sua marca homônima, o designer alemão mostrou que, quando parte de uma equipe bem estruturada, é possível se destacar sem culminar em um desastre — ou, pelo menos, era, quando não se buscava um viral por mês.

    Assim, em meio a ânimos exaltados, cabe também entender o limite entre a informação e a especulação, especialmente no meio digital. É fato que assinar 18 coleções dentro de 365 dias sugere uma sobrecarga física e emocional, mas não se sabe como as tarefas são delegadas nessas empresas, também não há divulgação do nível de atividade do designer dentro de sua própria marca ou sequer se sua parceria com a Uniqlo será renovada. Assim, até que sua primeira coleção para a Dior atinja as passarelas em outubro deste ano, cabe à audiência aguardar atualizações quanto às possíveis movimentações burocráticas do mercado e, claro, do grupo LVMH – proprietário da Loewe, Dior, entre outras. 

    Dando sequência a uma Dior repetitiva e muito criticada, dirigida por Maria Grazia Chiuri, essa nova fase foi bem recebida, mas ainda depende da liberdade para criar e do tempo para amadurecer as criações que o designer desfrutará. O legado de Anderson na Loewe levou mais de 10 anos para ser construído; quanto tempo um grupo que anuncia sua realocação em meio a resultados negativos o dará para corrigir erros alheios?

    Enquanto as coleções do mercado de luxo se pasteurizam, excluindo as individualidades que fizeram com que as marcas prosperassem, surge mais uma luz no fim do túnel. Chanel, Gucci, Balenciaga, Bottega Veneta, Versace e Dior — essas são apenas algumas das marcas que se apresentarão sob nova direção criativa até o final do ano. Claramente, a criatividade clama por novas rotas; cabe a quem assina o cheque permitir que estas sejam exploradas.

     

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