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    Hormônios, estética e desinformação: por que o uso de anabolizantes se tornou parte do lifestyle?

    Hormônios, estética e desinformação: por que o uso de anabolizantes se tornou parte do lifestyle?

    POR Vinicius Alencar

    Nos últimos anos, o uso de anabolizantes e protocolos hormonais deixou de ser um assunto restrito a atletas e fisiculturistas para ocupar academias comuns, clínicas de estética e o feed de influenciadores. O fenômeno não é exatamente novo, mas ganhou uma narrativa mais palatável — e, justamente por isso, mais perigosa. Para entender esse boom, o FFW conversou com o endocrinologista Dr. Filippo Pedrinola, a bióloga e divulgadora científica Mari Kruger e a médica integrativa Dra. Ana Teresa.

    Para a Dra. Ana Teresa, esse crescimento é fruto direto da cultura da performance. “Vivemos uma era em que tudo precisa ser rápido: mais energia, mais definição, mais disposição. A medicina avançou na compreensão do papel dos hormônios na saúde, mas esse avanço se misturou ao modismo estético. Muita gente passou a usar substâncias potentes sem indicação médica, confundindo reposição terapêutica com uso recreativo”, explica. Segundo ela, o problema não é o hormônio em si, mas o atalho: “O hormônio certo, na dose certa, no corpo certo e no momento certo é uma ferramenta de saúde. Fora disso, é um risco disfarçado de solução.”

    Dr. Filippo observa que o ideal de corpo perfeito atingiu um patamar inédito, impulsionado pela comparação constante nas redes sociais. Mari Kruger complementa: o que antes era chamado abertamente de “bomba” agora surge suavizado como “chip da beleza” ou “protocolo hormonal”. “Quando influenciadores mostram esses recursos como parte do lifestyle, o uso passa a parecer comum, acessível e até inofensivo”, diz. “A preocupação hoje é muito mais performar uma vida saudável do que, de fato, ser saudável.”

    Reposição hormonal x uso estético: onde está a fronteira?

    A popularização do termo “reposição hormonal” também contribuiu para a confusão. Para o endocrinologista, a diferença é objetiva: reposição é restabelecer níveis deficientes, confirmados por exames e sintomas; uso estético é ultrapassar o fisiológico para ganhar massa rápido, reduzir gordura ou melhorar performance. Na prática, porém, esses limites se misturam no discurso popular e abrem espaço para o uso indevido.

    Existem alternativas realmente seguras?

    Sim, mas dentro da medicina e não da estética. Em pessoas com diagnóstico de deficiência hormonal, tratamentos como reposição de testosterona são seguros quando acompanhados de forma rigorosa.

    No entanto, fora desse contexto, não existe hormônio seguro, quando usado para fins estéticos, reforça Mari. O que funciona, de forma sustentável, continua sendo aquilo que o discurso fitness tenta simplificar: treino estruturado, descanso adequado e alimentação com base científica. Suplementos como whey e creatina são aliados sólidos quando bem orientados, mas os hormônios não entram nessa categoria.

     A Dra. Ana Teresa é direta: “A diferença está na intenção e na dose. Reposição hormonal é tratamento médico para restabelecer níveis fisiológicos. Já o uso estético ultrapassa esses limites em busca de ganhos rápidos de massa ou definição, e isso traz riscos desnecessários.” Para ela, não se trata de ser “a favor ou contra” hormônios, mas de uso seguro e individualizado. “Reposição não é ferramenta estética. Fora do contexto clínico, vira exposição a efeitos colaterais evitáveis.”

    Os riscos: do psicológico ao cardiovascular

    Os efeitos colaterais são amplos. Dr. Pedrinola explica que doses acima das fisiológicas  de testosterona interferem diretamente nos neurotransmissores, podendo gerar irritabilidade, impulsividade, agressividade e depressão após a interrupção. Em alguns casos, há dependência psicológica. “Doses elevadas podem causar irritabilidade, euforia, labilidade emocional e até dependência psicológica, aquela sensação de que é impossível se sentir bem sem a substância”, explica a Dra. Ana Teresa.

    Mari reforça: a literatura científica descreve desde acne, queda de cabelo e hepatite medicamentosa até tumores hepáticos, paranoia, alucinações, suicídio e dependência.
    No campo cardiovascular, os riscos incluem infarto, trombose, arritmias e insuficiência cardíaca.

    Homens x mulheres: impactos diferentes

    Embora alguns riscos sejam comuns, mulheres enfrentam efeitos que podem ser irreversíveis, como engrossamento da voz, aumento de pelos, hipertrofia do clitóris e interrupção do ciclo menstrual. Nos homens, há risco de ginecomastia, atrofia testicular e infertilidade. Em ambos os sexos, o uso inadequado compromete saúde metabólica, hepática e cardiovascular.

    O papel das redes sociais na explosão do tema

    Para as três fontes, a internet é o grande acelerador desse processo. “O algoritmo privilegia resultados rápidos, mas não mostra os bastidores: exames alterados, efeitos colaterais, frustrações quando o corpo volta ao normal”, diz a Dra. Ana Teresa. “Informação sem contexto é perigosa, e esse é um dos grandes desafios da medicina hoje.”

    Ela resume: “Existe, sim, um meio-termo ético e seguro, desde que haja individualização, acompanhamento médico e objetivo de saúde — não de perfeição. O equilíbrio está em usar a tecnologia como aliada da vida, e não como instrumento de vaidade.”

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