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    Frankie Amaury: moda, poder e o silêncio de uma elite

    Chico Felitti revisita um dos casos mais intrigantes da moda brasileira.

    Frankie Amaury: moda, poder e o silêncio de uma elite

    Chico Felitti revisita um dos casos mais intrigantes da moda brasileira.

    POR Keven Souza

    Quando vi que o caso Frankie Amaury seria tema de um podcast, fiquei curioso. O episódio reúne tudo o que me fascina: moda, [alta] sociedade, morte e os bastidores de um mundo que já não existe mais. Nos anos 1980, a dupla fez o impossível, colocou as socialites cariocas em couro dos pés à cabeça, com sorriso no rosto e orgulho em dizer: “é Frankie & Amaury”.

    Entre festas, desfiles e noites regadas a champanhe na Lagoa e Arpoador, o argentino Frankie Tufani e o brasileiro Amaury Veras foram o centro solar da moda carioca. Com um estilo ousado e um senso de espetáculo incomum, conquistaram uma clientela que ia da elite tradicional à emergente, transformando o couro em símbolo de poder e desejo. Em meio a excessos (de drogas, de glamour, de vaidade), os dois pareciam inatingíveis. Até que o brilho se rompeu: um suposto suicídio, depois questionado como possível assassinato, levou a dupla das colunas sociais às páginas policiais.

    Mais de trinta anos depois, o jornalista Chico Felitti revisita o caso no podcast Vítima da Moda, lançado pela Audible. A série de dez episódios mergulha em um dos capítulos mais nebulosos da moda brasileira, misturando investigação, memória e crítica social.

    “Sou fascinado por histórias que o tempo preferiu esquecer”, me contou Chico, em uma conversa por Meet, direto da Itália, onde passa uma temporada. “Quando ouvi falar pela primeira vez em Frankie e Amaury, achei que fosse uma espécie de Versace brasileiro: dois estilistas, um assassinato, um silêncio. Mas, ao pesquisar, percebi que nunca houve uma grande reportagem sobre eles. Era um vazio.”

    Antes de se tornar repórter e autor de best-sellers como Ricardo & Vânia e A Casa: A História da Seita de João de Deus, Chico flertou com a moda. “Trabalhei na MKTMIX, tentei fazer moda na Santa Marcelina, mas não passei. Admirava muito a Erika Palomino, queria ser amigo do Dudu Bertholini, do Johnny Luxo… Depois entendi que o que eu amava mesmo era a crônica. E esse caso, no fim, é uma grande crônica sobre o Brasil.”

    Luxo, tragédia e o apagamento queer

    A investigação de Vítima da Moda expõe o abismo entre a imagem pública dos estilistas e o que acontecia fora dos holofotes. Frankie, carismático, era a alma do marketing; Amaury, mais reservado, o artesão do ateliê. “Muitos diziam que Frankie era o encostado, o festeiro. Mas foi ele quem criou todo o lifestyle. O marketing era dele”, explica Chico.

    Entre 1983 e 1988, a marca viveu seu auge. As criações de couro colado ao corpo, os desfiles performáticos e a narrativa de luxo tropical criaram uma estética. Mas quando a relação entre os dois começou a ruir, entre dívidas, traições e vícios, o império desabou com a mesma velocidade com que havia se erguido.

    No fim, restaram rumores. E uma morte. Em 1988, Amaury foi encontrado sem vida, em circunstâncias tratadas como suicídio. Logo, surgiram contradições, suspeitos, versões. “Havia mais de uma pessoa na cena da morte. Documentos sumiram. Nenhuma investigação foi adiante. Quando as vítimas são gays, os crimes são conduzidos de outro modo. É como se a violência fosse naturalizada”, diz Chico.

    A sociedade reagiu com silêncio. “Falei com mais de 300 pessoas. No Rio, só duas responderam. Em São Paulo, a elite parece mais reclusa, mas também mais sincera. A elite carioca, não. Ela quis apagar o episódio.” Mesmo assim, o autor conseguiu depoimentos valiosos. “Gloria Kalil foi uma das primeiras a topar falar e foi super aberta. Assim como Rosane Collor de Mello, todas trouxeram peças de um quebra-cabeça esquecido.”

    Frank, por sua vez, caiu em desgraça. “De socialite a persona non grata”, diz Chico. “Houve quem o acolhesse, como Nelsinha Brizola, que emprestou uma casa para ele viver. Outra socialite chegou a dar 5 mil dólares para ajudá-lo a fugir para a Argentina.”

    Mas a história não terminou ali. Dias antes de um julgamento, surgiu um atestado de óbito – supostamente de Frankie. “Parecia coisa de cinema. De repente, um advogado aparece com um documento dizendo que ele morreu. Mas será que morreu mesmo? Ou foi uma fuga hollywoodiana?”, provoca o jornalista.

    Moda, memória e a crônica dos esquecidos

    Felitti não trata o caso como uma investigação fria, mas como um estudo sobre o comportamento da moda e de quem a faz. “A moda amplifica a humanidade: as paixões, as vaidades, as violências. Tudo acontece em velocidade dobrada. Mais glamour, mais drogas, mais mudança, mais risco. E, sendo um meio composto majoritariamente por pessoas LGBTQIAPN+, também mais suscetível à violência e ao apagamento.”

    O podcast é uma tentativa de devolver humanidade a dois personagens transformados em lenda e, depois, em silêncio. “Sempre acreditei que quanto mais uma história é contada, menos maniqueísta ela se torna. Frank e Amaury não são santos nem vilões. São complexos, contraditórios, e por isso profundamente humanos.”

    Ao final da conversa, pergunto se, depois de tanto tempo de pesquisa, Chico consegue se desligar do tema. Ele sorri: “Não acaba nunca. Continuo pesquisando, acompanhando, falando com as famílias. É um cordão que não se corta. Acho que, enquanto o caso não for reaberto, ele não vai me deixar.”

    Vítima da Moda, disponível na Audible, tem dez episódios de cerca de uma hora cada. É uma série sobre crime, mas também sobre afeto, memória e a necessidade de olhar de novo para as histórias que o país tentou esquecer.

    “Nos anos 80, quando uma bicha morria, diziam que era porque ‘tinha que acontecer’. Em 2025, não dá mais pra aceitar isso. Ninguém merece morrer”, conclui Chico.

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