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    Entre o colapso e a comédia: o que ‘‘Adults’’ e ‘‘Overcompensating’’ dizem sobre crescer hoje

    Em um mundo sem respostas, essas séries abraçam o “ninguém sabe o que está fazendo” como estilo de vida.

    Entre o colapso e a comédia: o que ‘‘Adults’’ e ‘‘Overcompensating’’ dizem sobre crescer hoje

    Em um mundo sem respostas, essas séries abraçam o “ninguém sabe o que está fazendo” como estilo de vida.

    POR Laura Budin

    Se os anos 2000 nos venderam a ideia de que a vida adulta poderia ser um mar de experiências glamourosas (obrigada, “Sex and the City’’), e os 2010 nos lembraram que ela, na verdade, é uma sucessão de fracassos humilhantes (obrigada, ‘‘Girls’’), os 2020 parecem ter chegado para dizer: ‘‘E se a gente só… aceitasse?’’.

    É nesse terreno entre a autodepreciação e a autoaceitação que se encontram ‘‘Overcompensating’’ e ‘‘Adults’’, duas das novas comédias que repensam o que significa ser jovem hoje – ou melhor, o que significa tentar ser.

    O fim das narrativas inspiradoras (e a ascensão do ‘‘é Isso aí mesmo’’)

    Se ‘‘Friends’’ era sobre amigos que, no fundo, sabiam que tudo daria certo, e ‘‘Girls’’ sobre millennials que fingiam não se importar enquanto implodiam, ‘‘Adults’’ e ‘‘Overcompensating’’ são sobre personagens que já começam sabendo que nada vai ser tão legal quanto prometeram.

    ‘‘Adults’’ acompanha um grupo de amigos vivendo juntos na casa de infância de Samir (Queens, porque Brooklyn já era caro demais até para piada). Eles não têm empregos estáveis, planos concretos ou mesmo a certeza de que crescer vale a pena. ‘‘Overcompensating’’, por sua vez, segue Benny (Benito Skinner), um ex-atleta universitário tentando desesperadamente não ser gay em um ambiente onde a masculinidade tóxica é tratada como esporte olímpico.

    A mensagem? Crescer hoje é menos sobre encontrar seu propósito e mais sobre sobreviver ao dia a dia sem surtar.

    A estética do fracasso como linguagem
    Se ‘‘Girls’’ ainda carregava um certo peso de ‘‘precisamos justificar nossa existência’’, essas novas séries abraçam o nonsense e o absurdo como válvula de escape. Em ‘‘Adults’’, um personagem recebe uma indenização de seis dígitos por assédio no trabalho – e, em vez de virar um mártir da causa, vira o ‘‘sortudo’’ que todos invejam, enquanto o grupo tenta capitalizar em cima do escândalo. Em ‘‘Overcompensating’’, Benny conversa com um pôster da Megan Fox (que responde) e uma festa da fraternidade vira um ritual de masculinidade que inclui urros, socos no peito e rasgar a própria camisa.

    A piada aqui não é ‘‘olha como somos patéticos’’, mas sim ‘‘olha como a vida já é patética, então vamos rir mesmo’’.

    Millennials vs. Gen Z: a batalha das referências

    Enquanto ‘‘Girls’’ e ‘‘Broad City’’ ainda tentavam equilibrar ‘‘somos uma geração perdida, mas especial’’, ‘‘Adults’’ e ‘‘Overcompensating’’ já nascem pós-crise existencial. A diferença está no tom: ‘‘Adults’’ tem um humor mais ácido, quase ‘‘ninguém liga, então vamos zoar tudo’’. Já ‘‘Overcompensating’’ é mais doce, quase um ‘‘a vida é difícil, mas pelo menos temos uns aos outros’’.

    A internet como personagem
    Diferente de ‘‘Friends’’ (que mal tinha celular) ou ‘‘Girls’’ (que usava a internet como pano de fundo), ‘‘Adults’’ e ‘‘Overcompensating’’ já nascem formados pela cultura digital. Em ‘‘Overcompensating’’, Benny luta contra a performatividade da masculinidade – algo que o TikTok já esmiuçou em mil vídeos de ‘‘sigma vs. beta male’’. Em ‘‘Adults’’, a personagem Issa solta pérolas como ‘‘Estamos num momento pós-De Blasio, pré-Avatar 3, temos que viver!’’ – uma piada que só faz sentido se você cresceu vendo memes no Twitter.

    A linguagem dessas séries é a de uma geração que já nasceu sabendo que a vida real e a internet são a mesma coisa.

    Veredito: vale a pena assistir?
    Se você sente saudade (ou vergonha) da era Friends/Girls, ‘‘Adults’’ e ‘‘Overcompensating’’ são um retrato atualizado – e sem glamour – do que é ‘‘tentar ser alguém’’ hoje. No fim, ambas mostram que, se a vida adulta não é mais aquela fantasia de ser ‘‘a voz de uma geração’’, pelo menos agora podemos rir da desgraça juntos. E, convenhamos, isso já é um progresso. (Ou, como diria Issa em ‘‘Adults’’: ‘‘A gente não tem futuro, mas pelo menos temos Wi-Fi.’’)

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