Douglas de Souza transforma bibelôs e carros em arte
Artista mistura Madonna, elementos pop e dicotomias a partir de pinturas

Douglas de Souza transforma bibelôs e carros em arte
Artista mistura Madonna, elementos pop e dicotomias a partir de pinturas
Douglas de Souza nasceu em Blumenau (SC), tem 41 anos e vive em São Paulo há 15 anos. Formado em Artes Visuais, depois de ter passado por cursos de Comércio Exterior, moda e design, ele hoje se dedica integralmente à pintura.
“Preciso estar no ateliê todos os dias”, conta. O espaço surgiu aos poucos: primeiro no tempo livre, depois em um quarto da casa, até que se transformou em um ambiente exclusivo para a criação.
Seu trabalho explora símbolos como cisnes, cavalos e veados — figuras carregadas de dicotomias, entre força e fragilidade, delicadeza e virilidade. “Quero refletir sobre a masculinidade a partir da minha vivência como homem gay”, explica.
As imagens surgem de bibelôs de porcelana ou cristal, misturados a elementos da velocidade — carros, capacetes, insígnias — em superfícies brilhantes, sedutoras, mas frágeis.
“Imagina uma pintura feita por alguém que cresceu vendo MTV nos anos 90, era fã da Madonna e brincava de boneca e carrinho ao mesmo tempo. É isso”, resume.
Pra começar, onde você nasceu, qual sua idade e formação?
Nasci em Blumenau (SC) e moro em São Paulo há 15 anos. Tenho 41 anos. Minha trajetória acadêmica começou em Comércio Exterior, depois passei pela moda, fiz alguns cursos de design e, por último, me formei em Artes Visuais.
Hoje você se dedica integralmente à pintura?
Comecei a pintar em 2013, quando ainda trabalhava em tempo integral com moda, ilustrando e criando estampas. Aos poucos, fui abrindo espaço para a pintura: primeiro no tempo livre, depois em um segundo quarto da casa, até conquistar um ateliê próprio. Hoje, minha rotina gira em torno da prática diária da pintura. Preciso estar no ateliê todos os dias.
Alguns elementos e efeitos são onipresentes no seu trabalho. Como isso começou?
Meu trabalho foi se construindo a partir do desejo de criar uma gramática visual própria. Nessas investigações encontrei o cisne, que além das leituras históricas e mitológicas, para mim tem uma ambiguidade: é feminino e fálico ao mesmo tempo. A partir daí, busquei outras figuras — como o cavalo, o veado, além de elementos ligados a carros e velocidade — que se cruzam em dicotomias que me interessam, como frágil e forte, afeminado e viril. É a partir desses símbolos que reflito sobre a masculinidade, especialmente pela minha vivência como homem gay.
E como é o seu processo, de adaptar e lapidar a pintura? Tem vontade de trabalhar em outras técnicas?
As figuras geralmente vêm de bibelôs — cisnes, veados, cavalos — encontrados em porcelana, metal ou cristal, que evocam esse ambiente doméstico e decorativo. Misturo isso com insígnias, latarias de carro, capacetes, símbolos da rua, do perigo e da velocidade. Gosto de representar superfícies brilhantes, sedutoras, mas que também são frágeis: amassam e quebram. Tenho curiosidade de experimentar essas mesmas ideias em outros materiais e linguagens, como a escultura. Acho que essas dualidades entre o forte e o delicado ganhariam novas camadas se traduzidas para outro meio.
Se tivesse que definir o seu trabalho para alguém pela primeira vez, como faria isso?
Imagina uma pintura feita por alguém que cresceu vendo MTV nos anos 90, era fã da Madonna e brincava de boneca e carrinho ao mesmo tempo. Meu trabalho tem esse espírito: mistura referências da cultura pop, da dualidade entre masculino e feminino, trazendo tudo isso para uma pintura contemporânea.
Você tem um background na moda. De alguma forma isso aparece no seu trabalho ou são universos separados para você?
Trabalhar tantos anos com moda me deu um repertório visual e conceitual que carrego até hoje. Isso aparece na forma como penso as imagens e faço conexões entre universos diferentes. Para mim, moda e arte não são mundos separados, e adoro quando esses caminhos se cruzam nas minhas pinturas.