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    Cafés x Coworkings: onde termina o café e começa o home office?

    Quando a pausa vira planilha, o espresso perde o charme?

    Cafés x Coworkings: onde termina o café e começa o home office?

    Quando a pausa vira planilha, o espresso perde o charme?

    POR Laura Budin

    Com o trabalho remoto estabelecido e a busca por ambientes mais leves fora de casa, muitos cafés passaram a receber, nos últimos anos, um novo tipo de cliente: o que transforma a mesa em estação de trabalho. A cena virou rotina – e também um ponto de tensão. Afinal, o café é um lugar para fazer reunião ou para fazer uma pausa? A pergunta pode parecer simples, mas está levando diferentes estabelecimentos a adotarem posturas bem distintas.

    Alguns cafés começaram a restringir o uso de laptops, o tempo de permanência e até o acesso ao Wi-Fi. Já outros veem no público remoto uma oportunidade de criar uma nova clientela.

    Explicamos esse cenário e conversamos com donos de cafés para entender como essa dinâmica afeta – ou melhora – a experiência no espaço.

    Um lugar para trabalhar, mas com regras claras
    No HM Food Café, com unidades em São Paulo, o uso do espaço como ambiente de trabalho é bem-vindo. Para o proprietário Hesli Carvalho, isso sempre fez parte do conceito do negócio: ‘‘Nós sempre pensamos no café como um hub de encontros e serviços para a comunidade local. Então faz sentido usar o espaço com essa finalidade também. Por isso, por exemplo, temos internet de alta velocidade.’’

    Mas isso não significa que tudo é permitido. Com o aumento desse tipo de uso, especialmente depois da pandemia, o café criou uma política clara que é divulgada nas redes sociais e no site. ‘‘Tivemos que educar essa nova leva de clientes. A comunicação é direta: não somos um coworking. Sempre pergunte quais são as regras de cada lugar’’, diz Hesli.

    Há, por exemplo, um combo especial para quem quer trabalhar por lá, com café à vontade e pão de queijo, e mesmo sem exigir consumo mínimo, espera-se bom senso. Em horários de pico, a prioridade é para quem vai almoçar ou tomar brunch. A exceção são os fins de semana, quando o trabalho com laptop é totalmente desencorajado.

    Quando o laptop muda a atmosfera do café
    Na contramão dessa dinâmica, o Romance Café, também em São Paulo, tem uma postura mais restritiva – e por motivos que vão além da logística. A proprietária, que cuida de tudo sozinha, explica que a proposta sempre foi ser um espaço de pausa e respiro da correria da cidade. ‘‘O uso de computador e a galera fazendo reuniões torna o ambiente meio caótico. Perde a noção do espaço como pausa, sabe?’’, diz. ‘‘Acaba parecendo um escritório, e não é isso que eu quero.’’

    O incômodo não é com quem abre o notebook por alguns minutos, mas sim com quem ocupa uma mesa por horas, consome pouco e tenta transformar o ambiente em extensão do home office. Ela relata casos de clientes pedindo para abaixar a música para fazer reunião e se mostrando indignados com a falta de Wi-Fi – que nunca foi oferecido. ‘‘Essa falta de noção, de tato, é muito ruim pra gente e pros outros clientes também, que vão lá pra ter a experiência que a gente propõe.’’

    Convivência ou conflito?
    Entre o ‘‘pode tudo’’ e o ‘‘proibido trabalhar’’, há um meio-termo delicado. O HM, por exemplo, já enfrentou situações extremas – como a de clientes chegando com dois monitores e impressora após viralizarem em um perfil que listava lugares bons para trabalhar em São Paulo. Isso forçou o café a reforçar suas políticas e limitar o uso em alguns períodos. ‘‘Hoje em dia já não temos mais essa necessidade. A maioria das pessoas já entendeu’’, conta Hesli.

    Já no Romance, a proprietária ainda cogita seguir o caminho de cafés como o King of the Fork, que proíbem totalmente o uso de laptops. ‘‘Eu não quero chegar a esse ponto, mas às vezes penso que seria a melhor saída. Ainda mais num espaço pequeno, com mesas compartilhadas – você não quer sentar pra tomar um café e dividir a mesa com alguém que tá em reunião.’’

    Um debate que está só começando
    A discussão, que também já chegou a outros lugares como França e Reino Unido, envolve não só o uso do espaço, mas o que se espera da experiência de ir a um café. Para Hesli, é possível equilibrar os dois mundos: ‘‘Nós somos um café onde se pode trabalhar de forma tranquila e tomar um café gostoso. Não somos um coworking que vende café. Entendendo bem essa descrição, todos saem ganhando nesse ecossistema.’’

    Em conversa com a FFW, o Café Pace, um dos pilares da marca Pace, explica que a presença de pessoas trabalhando, nesse caso, faz parte da própria essência de criação do espaço: ”O core business da PACE não é o café em si, mas sim a experiência completa que a flagship oferece. Pensamos em quem viria aqui para produzir, seja trabalhando, em reuniões ou encontros criativos, e queríamos criar um ambiente inspirador ao redor disso. O café é um dos elementos que compõem esse universo. Tudo foi pensado para incentivar conexões, criatividade e bem-estar.”

    Já no Romance, a prioridade continua sendo a calma, o silêncio e o afeto – valores que podem se perder em meio a fones de ouvido, planilhas e calls. ‘‘Esse é um lugar de calma mesmo, de pausa. E a convivência precisa de conversa.’’

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