Allan Weber: o artista que transformou câmeras em fuzil e chegou à Europa
Entre fotos, objetos e símbolos da rua, o artista carioca reflete sobre pertencimento, arte como arma e a estreia de ‘‘My Order’’ no Reino Unido.
Entre fotos, objetos e símbolos da rua, o artista carioca reflete sobre pertencimento, arte como arma e a estreia de ‘‘My Order’’ no Reino Unido.
Allan Weber: o artista que transformou câmeras em fuzil e chegou à Europa
Entre fotos, objetos e símbolos da rua, o artista carioca reflete sobre pertencimento, arte como arma e a estreia de ‘‘My Order’’ no Reino Unido.
Entre fotos, objetos e símbolos da rua, o artista carioca reflete sobre pertencimento, arte como arma e a estreia de ‘‘My Order’’ no Reino Unido.
Depois de ver sua obra estampada na capa da revista Dazed – em um editorial com o rapper Oruam, onde um fuzil feito de câmeras fotográficas virou símbolo de resistência e provocação -, Allan Weber segue expandindo sua voz artística com a estreia de ‘‘My Order’’, sua primeira exposição individual em uma instituição internacional. A mostra chegou ao De La Warr Pavilion, na Inglaterra, em junho de 2025, com trabalhos inéditos desenvolvidos entre o Rio de Janeiro e o Reino Unido, em uma residência que reforça sua prática enraizada na cultura das periferias e nas materialidades do cotidiano.
A FFW conversou com o artista, que nasceu e vive na comunidade das Cinco Bocas, em Brás de Pina, Zona Norte do Rio, e transforma suas vivências em fotografias, esculturas e instalações que falam sobre espiritualidade, trabalho invisível e desejo de mudança.
Seu contato com a arte começou a partir da pixação e do skate. Como esses elementos continuam presentes na sua prática hoje?
Eu acho que o skate abriu muitas portas no lado da cultura para mim, para eu poder conhecer um pouco do mundo da fotografia, moda e cinema. A pixação, por mais que eu não esteja mais colocando nome na rua eu ainda continuo meio que praticando algo dela, é uma certa postura, é uma forma de tomar decisões.
Seu trabalho mistura fotografia, objeto, escultura e instalação — como você escolhe o suporte ideal para cada ideia?
Cada ideia tem um formato e material específico. Eu não trabalho muito com metáfora, são materiais do meu cotidiano que já vem com a história dele. E quanto mais eu uso, mais eu conheço, e ele ganha significado próprio na minha obra, e aí eu vou criando uma linguagem e uma poética.
Existe um limite entre denúncia e poesia no seu trabalho? Como você equilibra essas potências?
Pra mim não existe esse limite, como eu sou artista tudo o que eu faço é poesia e eu também sou um reflexo da minha realidade, mas como a minha realidade está constantemente em crise, parece sempre que é denuncia.
“Traficando Arte” é uma série que causa impacto visual e simbólico imediato. Como surgiu a ideia do fuzil feito de câmeras? O que você queria provocar com essa imagem?
Veio do meu convívio, de diariamente de qualquer favelado com tráfico de droga, amigo, familiares e quando eu comecei a trampar com arte, muitas pessoas da favela não sabiam o que era e eu queria fazer algo que todo mundo se identificasse. Antigamente, a referência eram os traficantes, eram sempre eles que estavam fazendo algo pela sua comunidade, com dinheiro, moto.. eu ressignifiquei isso como uma forma de se comunicar com a favela, só que ao invés de cantar, eu escolhi os objetos. Então pra algumas pessoas pode ser apologia, pra outras fetiche, e nasceu disso dessa proximidade, da relação com o tráfico. A arte e a cultura são uma arma, pro menor sair dali e mudar de vida, assim como mudou minha a vida e de várias pessoas da favela.
Que tipo de conversa você espera provocar ao levar obras feitas com materiais e códigos da sua realidade para um público europeu com ‘‘My Order’’?
Não tem muita diferença né, eu ta levando a parada daqui pra lá. Chegando lá eu encontrei a mesma coisa. No final das contas somos todos uma comunidade, e existe essa comunidade em todos os lugares do mundo. A migração para outro continente em busca de qualidade de vida, e lá eles criam as próprias comunidades e esse modus operandi. E é aonde a gente vai e se sente acolhido.
Não foi muito sobre levar material e provocar alguma coisa, foi mais sobre mostrar ao publico de lá que essas pessoas estão lá também. Fala sobre o que as pessoas não tão falando lá. Existe uma vida inteira que tu não conhece.
A obra “Traficando Arte” apareceu na capa da Dazed, segurada pelo Oruam. O que você achou da repercussão desse editorial?
Eu achei que isso foi muito bom, deu muita visibilidade nacional e internacional pra nossa cultura da favela. Ao mesmo tempo, isso desencadeou muitas questões também como o preconceito contra a realidade do favelado e o que o favelado faz, no campo da arte, da música e da moda.
Queria agradecer a Natasha Ribas e o Pedro Apolinário pelo convite para fazer parte desse projeto com a Dazed.
O quanto você acha importante que artistas da cena urbana e periférica estejam presentes nessas narrativas de moda e cultura internacional?
Acho fundamental que essas narrativas estejam circulando por esses veículos porque elas não são apenas assuntos das minorias, elas representam a cultura do nosso país.
O que você diria para um jovem da comunidade que acha que arte não é pra ele?
Mano, a gente já nasce dentro do problema e as grades nunca vão prender nossos pensamentos. E tipo assim, nós que veio do pouco, nós é sonhador, e isso que mantém a gente vivo. Então mano, na maioria das vezes, a gente precisa só de um acesso mesmo ou uma oportunidade, então a meta é sempre ir atrás disso.