A Multiartista Julia Emiko compartilha seu olhar criativo
A stylist, modelo e diretora criativa constrói um trabalho que mistura vivência, crítica e sensibilidade na moda e na arte urbana.
A Multiartista Julia Emiko compartilha seu olhar criativo
A stylist, modelo e diretora criativa constrói um trabalho que mistura vivência, crítica e sensibilidade na moda e na arte urbana.
A multiartista, stylist, modelo e diretora criativa Júlia Emiko constrói sua trajetória a partir do cruzamento entre o sensível e o concreto, o impulso criativo e o olhar atento ao cotidiano. Natural do Mato Grosso do Sul e atualmente baseada em São Paulo, Júlia enxerga na prática constante e não no ideal de genialidade o verdadeiro motor da criação.
Com um trabalho focado na moda, mas se desdobra em pesquisa, imagem, performance e cultura urbana, ela articula referências diversas com fluidez, misturando vivência, estética e crítica em uma produção que dialoga diretamente com os desafios da produção criativa.
Seus processos criativos são guiados por um tipo de escuta ativa e olhos sempre abertos: “Eagle eyes me guiam”, como ela mesma define. Para além das aparências, Júlia se interessa por construir narrativas que desestabilizam padrões e colocam novas possibilidades de representação em circulação, especialmente em um campo ainda excludente como o da moda brasileira.
Ao atuar em um cenário majoritariamente masculino, especialmente no streetwear, ela reflete sobre sua posição como mulher racializada, criadora e referência para uma geração mais jovem. A potência do seu trabalho está justamente nesse trânsito: entre gêneros, linguagens e territórios, sempre com a intenção de provocar deslocamentos e abrir espaço para outras vozes.
Criar, para Júlia, é também se frustrar, experimentar e insistir. Mais do que entregar respostas ou seguir fórmulas, seu processo valoriza a vivência, o erro, o teste e a possibilidade de provocar transformação, mesmo que nos detalhes.
A seguir, leia a conversa de Júlia com o produtor de conteúdo de moda e cultura, Guilherme Rocha da FFW.
FFW: Como você percebe que sua vivência pessoal influencia suas escolhas criativas?
Julia: Sou uma mina com o olhar centrado em streetwear e ressignificação dentro de construções casuais, um espaço majoritariamente masculino. Percebo como as dinâmicas desse mercado no Brasil se comunicam de forma muito direta com um público formado, em grande parte, por meninos, muitos deles menores de idade, que consomem os frutos dessa cena. Estar no olho desse furacão e, ao mesmo tempo, me reconhecer como referência para vários deles é algo curioso, que revela muito sobre uma parcela da minha pesquisa, como me porto, o que vivo de diferente que fideliza uma comunidade de pessoas sobre mim. Mas não é só sobre cativar esse público específico… o que me instiga é entender que meu diferencial e poder de articulação, tão gritante dentro desse rolê, pode ser potencializado e melhor assimilado por pessoas mais novas, de outras gerações. Acho que existe aí um aspecto quase educacional. Saber que consumo, comunico e manifesto quem eu sou pode, de alguma forma, despertar inspiração em alguém.
FFW: Você sente que o seu trabalho dialoga com alguma urgência do nosso tempo?
Julia: Apesar de a indústria ter avançado em muitos aspectos, ainda é um espaço muito excludente para corpos e ideias diversas. Acredito que descentralizar a noção de que criatividade é um privilégio ou uma dádiva é uma urgência do nosso tempo, tudo é prática e não deveria existir hierarquia de valor entre pessoas. No meu trabalho, busco expandir espaços, me desafiar, experimentar e aprender com os erros, mesmo quando frustrantes. Acredito no potencial de uma geração cujos propósitos se alinham aos meus..um ciclo retroalimentativo de crescimento
FFW: O que acredita ser o seu diferencial?
Julia: Acredito que entrelaçar diferentes referências. Mesmo com meus apegos estéticos, busco consumir de tudo e treinar meu olhar para realmente enxergar o que está ao redor e rolando. Eagle eyes me guiam.
FFW: Quais são os desafios de criar em um momento em que tanto conteúdo e imagens são produzidos em alta velocidade?
Julia: Para mim, o maior desafio é superar as suposições e o achismo de quem já está dentro do mercado. Provar meu valor frente à expectativa alheia, por causa de X, Y fatores que me diferenciam, me incomoda. Em vez de me paralisar, essa velocidade de produção me instiga a criar, em um certo ponto. Aprendo a desenvolver calma, a contextualizar cada criação e a me manter constante naquilo que considero minha visão