A dupla Gabe Lima e Gustavo Vieira é responsável por alguns dos projetos gráficos mais instigantes de álbuns musicais brasileiros lançados dos últimos tempos. Nomes por trás do estúdio multidisciplinar Puritana.co, eles querem operar na contramão da velocidade criativa do mundo contemporâneo: acreditam no tempo, na troca e na construção de narrativas visuais com profundidade e intenção. “Criar algo novo requer cuidado e confiança”, resume Gabe. Com essa dinâmica, conquistaram artistas com personalidades marcantes como Liniker, Jup do Bairro ou as Irmãs de Pau. 

Gabe e Gustavo contam que a vontade de criar um estúdio próprio veio da frustração com os lugares onde trabalhavam. “Sentíamos o quanto os processos criativos eram banalizados: a forma de criar, o tempo e a remuneração desses processos”, explicam. A Puritana nasceu como uma forma de criar a partir de suas próprias regras — e onde o design não fosse só estética, mas reflexão.

“O excesso de imagens tem a função de distrair criativos”, afirma Gabe. Para ele, a fidelidade à própria visão é essencial. Já Gustavo acrescenta: “A gente cria pensando no agora, sem tempo para mudanças ou apreciação. Criar leva tempo — e se tiver que mudar de rota, tá tudo bem.”

A dupla valoriza repertórios amplos e afetivos. Gabe cita nomes como Solange, Samuel de Saboia, Basquiat e Melina Matsoukas, mas também letreiros de novelas antigas que assistia com a mãe. Gustavo, por sua vez, se diz obcecado por fotografia e destaca o trabalho sensível da japonesa Rinko Kawauchi, além da estética dos anos 80 e 90: “Tem algo nas coisas criadas nessas épocas que me fascina muito”. Para eles, não há fórmula aplicável dentro de um processo criativo, mas ele sempre começa pela escuta — dos artistas, diretores ou responsáveis pela narrativa — e se desenrola em protótipos, testes e muitas conversas. “Construir juntos é essencial para criar algo que nos diferencie”, diz Gustavo.

A Puritana.co é um exercício contínuo de pensar imagem e linguagem como ferramentas para provocar, deslocar e aproximar. Em um tempo que exige pressa, eles optam pela presença.