SÃO PAULO, 24 de maio de 2010
Por André Rodrigues (@randreh)
Dourados, pedrarias, bordados, rendas e volumes pra dar e -- com um pouco de sorte -- vender. Em continuidade ao tema explorado nas coleções passadas, Rodrigo Rosner se nutriu da árvore genealógica de sua própria família desembocando numa viagem a Hungria, país de origem dos seus avós, onde se esbaldou na estética rococó que fez, e continua fazendo, a cabeça de muitas mulheres no Leste Europeu.
O desfile que abre limpo, com um look total white, de saia ampla evasê com várias camadas de tule, top transparente bordado e ombros bufantes de plumas, logo engrossa num caldeirão barroquíssimo. Nos pés, o detalhe das plataformas meia-pata revestidas por tule e arrematadas por um laço. Ao longo do corpo, muitas pedrinhas brilhantes aplicadas com precisão cirúrgica, com atenção máxima aos detalhes. As rendas e bordados dão um show à parte, enchem os olhos, revelam o corpo da mulher sem revelar, são um exemplo de como Rosner sabe reinserir um elemento tradicional com sucesso, sem datar sua coleção.
O flerte com as diferentes volumetrias segue constante ao longo da coleção, valorizando o colo feminino, às vezes revelando as pernas, outras vezes as escondendo dos olhares. Existe uma tentativa de adesivar alguns looks, trazê-los mais para perto do corpo, mas Rosner parece notar que não é o caminho e volta a inflar o shape, dando vida a muitas imagens ótimas para ensaios de moda, mas absolutamente inviáveis para o dia a dia. Sobra entendimento da mulher fashion, falta entendimento da mulher real. Ao "limparmos" o desfile de seus exageros, fica claro que o acabamento é ótimo, os tecidos são de qualidade e é tudo bem executado. Por exemplo, as blusas transparentes, se submetidas a pequenos ajustes, são objetos de desejo.
Em alguns momentos o tema se torna tão marcante que relembra o figurino de uma peça de teatro. Impossível também não pensar no último desfile de Alexander McQueen em Paris. Mas quando a imagem está prestes a se tornar over the top (as calças de brocado dourado caneladas estão no limiar), entra em cena o styling impecável da dupla Flavia Pommianosky e Davi Ramos, amenizando com sabedoria o que estava prestes a se tornar um repetitivo excesso de informações: os adornos de cabeça e laços de acrílico são simplesmente geniais, dão um refresh automático nos looks, resetam a vontade de continuar vendo a coleção que traz, perto do final, uma sequência de vestidos que poderiam estar nos altares, bailes e tapetes vermelhos mais finos de São Paulo.