Mais do que roupas, a moda é feita de discurso, de atitudes. É por isso que dizem que ela reflete (ou deveria) o espírito do seu tempo, já que por meio de imagens, dá uma pista das principais questões vividas pela sociedade. Neste desfile, a Cavalera trouxe para a passarela uma discussão urgente e latente no mundo. “Hoje mostramos que não somos a carne mais barata do mercado. Respeitem a gente”, disse Léo Bronks, ao final da entrevista e do desfile, em conversa com o FFW. Junto com Emerson Timba, ele forma a dupla de stylists responsável pela transformação do figurino de funkeiros como Kevinho e MC Kekel. Na marca de Alberto Hiar, assinam pela primeira vez uma coleção de moda, que batizaram de “Skate, Punk, Jamaica no País do Futebol”. “O futebol é irônico, porque é a única maneira como a gente é visto.”
O desfile abriu com um vídeo em que Seu Jorge narra as estatísticas de mortes de negros por armas de fogo no Brasil. Um grupo de dançarinos convidados por artistas “embaixadores”, segundo a marca, ligados à cultura e grupos de sound system (caso da cantora Sistah Chilli) entrou dançando e sentou na passarela, formando o corredor por onde o casting 80% de modelos negros desfilou a coleção de streetwear com estampas vindas do punk, da cultura do skate e da Jamaica.
O filho da Hiar comandou o soundsystem; skatistas profissionais como Karen Jonz desfilaram com seus skates. Sam Porto, homem trans modelo, encerrou a apresentação que teve, na fila final dos modelos, bandeira de “Foda-se o Fascismo”, em meio a um misto de baile e protesto. “Para resumir o desfile em duas palavras: resistência e versatilidade”, encerra Léo. (CAROLINA VASONE)