Todas as religiões são bem-vindas, todas as raças, todas as escolhas de gênero. A mensagem da convivência pacífica e respeitosa com o diferente sempre esteve presente na moda de João Pimenta, mas nesta temporada ele sentiu a necessidade de reafirmá-la. "Esse é um momento muito ruim mas também inspirador. Sinto que é um momento de reafirmação dos negros, dos índios, das questões de gênero, de todas as liberdades que estão querendo nos negar", diz o estilista, sobre a situação política do país. Para isso, ele escolheu usar o sincretismo como tema central de seu desfile masculino. "Quis juntar todos os deuses, porque precisamos muito acreditar em algo neste momento."
Elementos de várias religiões, portanto, do catolicismo às religiões afro-brasileiras, aparecem nas pinturas feitas à mão de imagens de Nossa Senhora, Iemanjá, Oxum, em camisas e jaquetas. O humor aparece em peças como os cérebros pintados também à mão na jaqueta ("estamos precisando de cérebro atualmente") e no Santo Antônio pintado de ponta cabeça ("para arranjar namorado"). Numa das peças, uma fusão de Iansã, a deusa/orixá dos ventos e tempestades no candomblé e na umbanda, e de Nossa Senhora, aparece nas costas de um casaco.
As jaquetas pintadas à mão e os casacos de pelúcia ganharam uma segunda pele de plástico ou náilon transparente, que dava uma textura interessante à roupa. Nos shapes, o estilista variou entre modelos mais próximos do corpo, sucessos de venda em sua loja, como a calça masculina flare e as de pernas largas e momentos oversized como o o paletó e a calça de alfaiataria amarela bem ampla, as jaquetonas longas e grandonas.
Na beleza, assinada por Amanda Schon, os olhos foram pintados com lápis kajal preto para dar a eles uma imagem de guerreiros. Nos modelos negros, Amanda reforçou essa força da maquiagem ao aplicar, primeiro, um pó da MAC brilhante, o que deu à maquiagem do olho mais dramaticidade e uma luminosidade quase sacra.
No corpo de alguns modelos, havia os nomes de orixás com suas saudações. "A beleza acompanha o conceito da coleção do João. É um exercício de liberdade", resume Amanda. (CAROLINA VASONE)
