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    Apartamento 03
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    N44
    Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE
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    Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE
    Por Camila Yahn 31.ago.17
    “Se a Lota fosse minha amiga hoje, esse seria o meu poema pra ela”. Luiz Claudio, diretor criativo da Apartamento 03, me diz essa frase após explicar todo o conceito da coleção. Lota é Lota de Macedo Soares (1910 – 1967), francesa naturalizada brasileira que ficou muito conhecida por seu relacionamento com a escritora inglesa Elizabeth Bishop. Mas não foi esse o foco da inspiração de Luiz Claudio. Ele começou com uma pesquisa de arquitetura, pensando em formas de construir, já que seu processo não parte de um desenho e sim do tecido: ele coloca o pano no corpo da modelo e fica tentando possibilidades e descobrindo maneiras de fazer algo diferente. Caiu em suas mãos um livro de Elizabeth Bishop e, através dele, chegou em Lota. “É uma mulher incrível, a gente tem que falar dela. Mas o mais incrível é que o Brasil não saiba disso. Ela também era gay e vivia isso abertamente, o que certamente não ajudou a dar visibilidade ao seu trabalho. É uma coisa do mundo hétero, branco e masculino que faz a gente apagar essas memórias”, diz. “E eu, no lugar de minoria das minhas questões, acho importante falar dessas outras minorias”. Lota era paisagista, urbanista e arquiteta e foi a responsável pela criação do Aterro do Flamengo, no Rio. Por questões políticas, ela foi afastada da parte final do projeto, mas ficou a sua bravura, a sua luta para que a área não fosse loteada. Lota ia pro aterro trabalhar de calça jeans, coisa rara entre as mulheres da época. Numa pesquisa feita pelo jornal O Globo, as pessoas achavam que o aterro era obra completa de Burle Marx e achavam impossível que aquele trabalho fosse de uma mulher. De uma mulher gay. Assim, Luiz usa jeans em uma coleção pela primeira vez e mantém seu namoro com o guarda-roupa masculino, tudo a ver com ele e com Lota, mulher forte que gostava de roupas masculinas. A parte das construções geométricas do início do desfile vêm da arquitetura e os amarelos são uma referência à sua casa em Petrópolis, projetada por Sergio Bernardes, a primeira a usar estrutura metálica no Brasil. “Não queria uma história triste, então a cor tem essa coisa solar mais alegre”. A estampa de tabuleiro é uma remete ao jogo que ela entrou, político inclusive, para defender o que acreditava. Pontuando essa história, tem um frescor, ela elegância carioca, aquela leveza do Rio, culminando nos looks brancos do final com bordados que brilhavam (e combinavam com a maquiagem das modelos) nas peças fluídas e muito chiques (em sua tradução mais cool), inspiradas pelo desejo de Lota de ter um parque iluminado pela luz do luar. “Pensa nessa roupa na luz do luar...”. No final, Lota perdeu seus dois grandes amores, o parque e Bishop, com quem ficou de 1951 a 1965. A separação das duas acelerou um processo de depressão e Lota foi para Nova York tempos depois numa tentativa de reencontrar a poetisa. Mas foi encontrada inconsciente com um vidro de antidepressivos na mão. Luiz Claudio contou a história de uma mulher forte com a leveza e emoção (a trilha tão delicada), evoluindo cada vez mais seu estilo que leva às mulheres o charme da moda masculina, o cuidado e os detalhes do trabalho artesanal e uma elegância atemporal. “Eu veria ela assim”, finaliza. Que mulher! (CY)