Uma história de boudoir sobre amor e perda, perversão, sexo e poder. Um tema rico e amplo, que foi trabalhado com rigor e precisão. O desfile abre com as camisolas de tricoline de cashmere e um trabalho com fitas de gorgurão que permeia a coleção e faz a transição entre a inocência e a intimidade, das camisolas à perversidade do fetiche. Muitos elementos que definem a estética de Alexandre Herchcovitch estão lá: as técnicas de costura, as silhuetas, os laços, que aparecem desfeitos, o shape quadrado de algumas peças, o zíper com ilhós e amarração, usado desde o início de sua carreira em incontáveis roupas da Marcia Pantera e em coleções, as argolas nos seios usadas nos anos 1990. Há também a questão da dualidade, o agressivo e o leve, o sexo e o austero, o perigo e a inocência.
Uma das coleções mais fetichistas da história recente de Alexandre Herchcovitch. O trabalho com a fita remete ao bondage, há transparências, muito zíper, amarrações, argolas sobrepostas como sutiã (no look final de Vanessa Moreira) e seios que ficam de fora por conta do recorte com viés SM da roupa (look 11). Esse look é um dos mais fortes do desfile como imagem, mas é interessante notar que não é o peito nú que o transforma no mais ousado ou impactante, e sim a roupa em si, carregada de sexo através de seu desenho. Assim, não é um desfile sensual e sim sexual, com um fetiche que é cru, moderno e sofisticado ao mesmo tempo. E está aí algo difícil de conseguir, descartar as obviedades e os caminhos mais fáceis e ainda se suceder.
80% da coleção foi feita somente por duas pessoas. Apenas duas costureiras tinham as habilidades necessárias na pré-moldagem à vapor das fitas de gorgurão, que aparecem na maior parte da coleção. “O difícil era pegar uma fita reta e fazer no corpo, que é curvo”, explica Herchcovitch. Assim, ele usou uma fita de gorgurão de viscose que é mais maleável, mas pré-moldada a vapor, de maneira que pode esticar ou encolher dependendo do efeito desejado. “É uma matemática violenta”, diz, referindo-se a uma técnica que era muito usada nos acabamentos de roupas vitorianas. As fitas aparecem em detalhes até virarem um único vestido, 100% construído de fita de gorgurão. Aqui também notamos a capacidade dele em evoluir sobre um único tema, do mínimo ao máximo.
Um alfaiate pregou todas as mangas de alfaiataria em ponto picado, em que cada ponto leva um segundo, e uma outra costureira fez todas as peças em viés. Os vestidos do final do desfile em cetim duschese têm um estampa quadriculada preta e branca, mas feita da seguinte maneira: em cada quadrado branco tem um quadrado preto de tecido aplicado por cima. Ou seja, uma coleção muito artesanal, luxuosa no fazer, com técnicas históricas, inclusive usadas na Alta-Costura. No Brasil não existem profissionais prontos no mercado para esse tipo de trabalho; eles são ensinados pelos próprios estilistas. Alexandre treina as costureiras para que elas aprendam técnicas específicas. (CY)
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Foto: Zé Takahashi / Ag. Fotosite









































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