A moda nunca é suficiente para Ronaldo Fraga em suas apresentações. E nem deveria ser. O estilista tem um dom para causar comoções a partir de seus desfiles. Através de conexões e interpretações com outras searas do conhecimento e da cultura, ele extrapola o limite das roupas fazendo verdadeiras manifestações culturais e, vez ou outra, sociológicas.
Então, se ater à efemeridade da moda, ou à materialidade das peças deste inverno 2010, seria deixar o melhor e mais profundo de lado. O ponto de partida é a obra e vida da coreógrafa Pina Bausch – artista que revolucionou não só o mundo da dança e do teatro, mas quebrou as barreiras entre o palco e plateia. Dos seus movimentos que “quebravam nossas pernas e mudavam nossos membros de lugar”, sempre com algum propósito de ser, Ronaldo gira as roupas de frente para trás. Coloca a frente de um blazer ou vestidos nas costa, puxa os ombros pontudos para o peito, transfigura os gêneros a ponto de ficarem irreconhecíveis e até mesmo vira em 180 graus a cabeça das modelos que tinham o rosto coberto por cabelos e uma grande máscara na parte de trás.
O resultado é emocionante, como as apresentações de Bausch. Intenso. A passarela vira um circo “feliniano” com personagens únicos, que usavam suas roupas alongadas, de formas amplas e proporções alongadas, volumes arredondados, não de forma racional, mas sempre através das emoções. Emoções que as modelos dividem com o público através de um gentil apertar de mãos em agradecimento ao final do desfile.
Quanto às roupas em si, difíceis. Mais do que as das últimas coleções em que Ronaldo vinha aos poucos deixando-as mais fáceis de serem assimiladas. Com formas amplas, sobreposições inteligentes de texturas e proporções diferentes, se torna complicado enxergar como tudo aquilo pode encontrar caminho para as araras das lojas e, principalmente para os guarda-roupas das mulheres.
De cara, peças prontas para o uso ficam por conta dos bons looks pretos de referência à alfaiataria que abrem o desfile e os ótimos casacos e vestidos coloridos do final.
Mas as roupas de Ronaldo não são feitas apenas para serem vestidas. Elas devem, acima de tudo, ser sentidas – e suas consumidoras sabem disso.
Direção criativa: Ronaldo Fraga
Styling: Daniel Ueda
Trilha: Ronaldo Gino
Beleza: Marcos Costa
Direção de desfile: Roberta Marzolla









































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