PARIS, 6 de março de 2010
Por Luigi Torre
As coleções da Comme des Garçons raramente são de imediata assimilação. Na verdade, muitas vezes parece que tudo que a japonesa Rei Kawakubo mais gosta é fazer a crítica especializada rachar a cuca. Com almofadas, tecidos retorcidos, dobras volumosas e transparências, Kawakubo se limitou a dizer que sua inspiração veio do decorações internas.
Com volumes nada convencionais nos quadris, ombros, cinturas e bustos, quando não em pequenas almofadinhas espalhadas pelo corpo, a inspiração é interpretada com muita subversão. Os volumes também aparecem nas partes internas de jaquetas, vestidos e blusas, extrapolando seus limites e aparecendo entre aberturas nas costuras ou então como tufos de tecidos transparente enrolados.
O trabalho e estudo das formas é recorrente na trajetória de Rei Kawakubo. Respeitando ou não as formas do corpo feminino, a estilista ajusta, aperta e reduz proporções ou então vai para o lado oposto, escondendo qualquer vestígio humano por baixo dos volumes ou das estruturas rígidas. Alguns ombros são içados até quase esconder a cabeça das modelos, enquanto os quadris aparecem maximizados por imensas crinolinas.
Interessante também notar a abordagem da estilista numa temporada onde a atenção ao corpo feminino é algo extremamente relevante. É quase como um statement antimoda. E se tudo isso parece complexo, é justamente aí que reside a grandiosidade de Kawakubo. Numa época onde a velocidade absurda das relações humanas exige rapidez na assimilação de tudo, Kawakubo pisa no freio, permite múltiplas interpretações e demanda tempo considerável para o entendimento das suas ideias. Simplesmente genial.
