Em 28 de julho de 1978, tudo mudaria na Saint Laurent. Foi nessa data que Yves deixou a Avenue Marceau para apresentar no Hôtel Intercontinental. Lembro desse marco porque Anthony Vaccarello já havia homenageado essa fase ao recriar as icônicas luminárias em cascata e, agora, para o verão 2026, trouxe de volta outro símbolo: o logo feito de flores, assinatura da casa do fim dos anos 1970 até o início dos 1990, que sempre decorou as passarelas.
Na época, o WWD cravou: “Yves says big shapes”. Os críticos menos entusiasmados diziam que parecia “uma Scarlet O’Hara abandonada”. Essa passagem me veio imediatamente à cabeça durante a transmissão do desfile de hoje: vestidos extravagantes, repletos de babados, nos quais as modelos tropeçavam, um claro eco dos chamados “anos Opium” na biografia de Yves.
Outro detalhe que reforçou essa memória foi a escolha de colocar modelos negras como protagonistas, lembrando a força que tiveram nos anos 1980 musas de ateliê e passarela como Katoucha Niane, Mounia Orosemane e Amalia Vairelli, as favoritas de Yves. Vaccarello evoca esse espírito de rebeldia, liberdade e transgressão, no bloco inicial todo em couro, ainda que a silhueta agora soe rígida… às vezes até excessivamente.
O fato é que Anthony chegou onde chegou justamente por olhar fundo nos arquivos. Ele é, sem dúvida, um dos nomes fundamentais desse movimento de reativar a história na moda contemporânea. Eu amo a nostalgia, mas fica a pergunta: será ela o único ingrediente para materializar a moda do agora?
A beleza está toda ali, claro. Mas a emoção não nasce só do já vivido. E talento para escrever o drama do presente Vaccarello tem – e tem de sobra.