O cenário, como em muitos dos desfiles da Louis Vuitton, era apoteótico, mas desta vez ganhou o reforço de uma das mais bonitas vistas dos telhados de Paris. A imagem aérea da laje do último andar do prédio do centro de arte Pompidou mostrava as cobras gigantes pintadas na passarela, com o quadriculado de tabuleiro que remetia à estampa clássica em marrons da maison francesa. Nesta cenografia, assinada pelo arquiteto Bijoy Jain, do Studio Mumbai, já se anunciava a conexão que Pharrell Wiliams, diretor criativo da linha masculina da Louis Vuitton, quis fazer entre a cultura indiana e os códigos clássicos da grife francesa. E não tardaria, claro, para acrescentar seu olhar que sempre passa pelo streetwear.
A Índia que Pharrell Williams quer evocar é a do homem indiano moderno – talvez não à toa, considerando que, atualmente, o mercado indiano tem atraído o interesse das marcas de luxo. A calça de gancho baixo (inspiração na dhoti, usada pelos indianos), aparece então revisitada em alfaiataria cinza, usada com um paletó azul marinho com as iniciais LVM bordadas grandes na altura do bolso. Ao se virar, o modelo mostra o detalhe pespontado em branco que contorna o bolso cargo na lateral. A alfaiataria, alicerce da tradição da roupa masculina, vai ganhando cada vez mais casualidade, seja em camisas usadas abertas com regatas de malha por baixo, seja nas meias brancas usadas com sapato. Há ainda as muitas jaquetas, das aviador às esportivas, e até um chinelo de dedo com calça. Os tons, no início mais sóbrios, com cinzas, marinhos e marrons vão ganhando a vivacidade do roxo, do amarelo e do vinho, em especial nas bolsas. O humor fica nos detalhes, como na bolsa de sapo e nas estampas de animais, feitas pela Louis Vuitton para as malas usadas no filme de Wes Anderson, Viagem a Darjeeling (2007), e reeditadas para este verão 2026. Na última imagem do desfile, Pharrell agradece o público de shorts esportivo, moletom com aspecto desgastado com Vuitton escrito em letra cursiva por cima da camiseta verde. Uma boa síntese de seu desejo de desconstrução do homem da marca.