“O que posso adicionar de mim, em uma marca conhecida por reduzir e subtrair?”, foi a pergunta que Simone Bellotti carregou ao desenhar sua estreia na Jil Sander, revelada na manhã de hoje (24.09) durante o segundo dia da Milão Fashion Week.
Vale lembrar: a alemã Jil rejeitava o rótulo de “rainha do minimalismo”. Preferia se definir como “purista”. Sua obsessão nunca foi pelo efeito final, mas pela forma, pela técnica, pela construção e pela matéria-prima.
A coleção de estreia do designer italiano reimagina esse vocabulário somado ao que já vinha apresentando na Bally: linhas limpas, cinturas marcadas, o ângulo dos ombros encolhidos e projetados, tops curtos e blocos de cor. Uma saia lápis aparentemente simples revela um trabalho arquitetônico nas pequenas ancas pontiagudas dos quadris. Recortes laterais transformam o decote de um vestido. Uma malha cropped sugere ausência, subtração, vazio.
É como se o desfile fosse uma aula de matemática: números e equações que se tornam roupas.
Há um aceno ao esportivo, o mesmo que fez da Jil Sander uma referência de essencialidade, mas também movimento, energia urbana. De Raf Simons, Bellotti resgata a delicadeza: silhuetas que acentuam a cintura, sugerem emoção, insinuam romance. Não à toa, foi justamente esse tom que levou Raf da Jil Sander à Dior. Assim como a cartela peculiar: laranja, azul-anil, roxo-berinjela, em meios aos cinzas e pretos.
E há sentimento, sim. Até o jeans confirma isso. Num mundo saturado de estímulos, vestir-se de forma elementar soa quase como um escape. Simone parece entender isso melhor do que ninguém.