Na Pinacoteca Brera, toda iluminada por lanternas, entre estátuas e colunas neoclássicas, Giorgio Armani celebrou os 50 anos da marca e homenageou seu grande fundador e mestre, morto no último dia 4.
Modelos de gerações diferentes da era Armani, a começar por Mark Wanderloo, que abriu o desfile, apresentaram a extensa coleção que fez uma espécie de retrospectiva da carreira do estilista, sem jamais, porém, cair na citação literal de época. Os blazers quadrados e estruturados criados por Armani para catapultar o estilo da alfaiataria dos anos 80, portanto, estavam lá em espírito, mas suas versões atuais são suaves, às vezes até em sedas molengas. O tom era solene, mesmo clássico, ao som do piano ao vivo e colorido por uma cartela austera, com destaque para o azul geralmente mais escuro, e uma das marcas do designer.
Homens e mulheres andavam lado a lado numa simbologia bonita se pensarmos numa marca que foi responsável justamente por vestir as mulheres para o mercado de trabalho com “ternos” (sem colete, na verdade, eram costumes) Armani lá no final dos anos 70, começo (e ao longo dos) 80. A contemporaneidade vem com pitadas de streetwear (dá para notar um hoodie em um ou outro look) e, principalmente, por meio do diálogo com o multiculturalismo, muito presente na modelagem de calças de gancho baixo, na camisaria e mesmo blazers sem gola, com um perfume marcante da indumentária oriental. Mesmo na parte festa da coleção, com muitos vestidos azuis com brilho, os cintos com acabamento de franjas nas pontas faziam essa conexão com o Oriente.
A plateia, de smoking, reverencia a trajetória do estilista que fica para a história da moda pelo conjunto da obra, por sua contribuição inquestionável na definição da alfaiataria moderna. O desfile termina com aplausos de Richard Gere, um dos maiores símbolos da moda de Armani no cinema, e com Cate Blanchett e Glenn Close, gigantes da atuação, belezas e estilos atemporais, se abraçando. Bravo, signore Armani.