A jaqueta Saharienne deu as caras pela primeira vez em 1967, ajustada, bem rente ao corpo e foi imortalizada por Veruschka nas páginas da Vogue (então Paris) França, no ano seguinte. A peça sporty era um sopro de liberdade, utilitária e prática, termos que começavam a ser aceitos no guarda-roupas da época.
Mas Vaccarello, claro, não seria óbvio. Ao invés da clássica versão, ele olhou pra desfilada na alta-costura de 1996: bolsos em evidências, botões dourados, ombros marcantes e ultra acinturada – mas acinturada mesmo. E desse ponto de partida fez quase toda a coleção.
Há ali uma suavidade, menos rigor, mas também um ar de importância e mistério no ar, é isso que faz da mulher Saint Laurent mais madura – em falar nisso, uma série de modelos com idades superior a 50 anos deram as caras, Vaccarello sabe com quem quer se comunicar, mas principalmente quem quer se comunicar com a Saint Laurent.
Não há espaço pro inventivo, porque o próprio Yves em si apostava mais na atitude, no estilo em si, do que no novo (em seu sentido não ordinário) – o que não quer dizer que não cause desejo, nem seja atual. Na trilha, Catherine Deneuve descrevia alguns looks bem como faziam os desfiles de alta-costura até final dos anos 1960.
Interessante observar que, se no passado, a Saharienne women vinha por terra, dessa vez ela vem pelo ar: óculos aviador, toucas e lenços poupando os cabelos do vento, que parecem ser tão vertiginosos quanto os saltos – altíssimos. Quando os acordes de Take My Breathe Away (hit de 1986 e trilha de Top Gun) ecoam na passarela, a gente entende que apesar de certo despojamento aparente, aquela mulher é visceral.