Já vai fazer quase 10 anos que John Galliano assumiu a direção criativa da Maison Margiela e, desde então, ele tem dado vida ao que ficou conhecido no meio como “Margelliano”. É a fusão de dois mundos tão diferentes, até contraditórios, mas que quando combinados, revelam um novo significado e criam possibilidades inovadoras.
Neste desfile de Verão 2024, Galliano reforça com bastante clareza alguns códigos da Margiela, trazendo-os para o centro do palco. Roupas que parecem inacabadas, peças mostradas ao avesso, marcações de costura aparentes, como se fossem looks em processo de construção, um pensamento que está ainda sendo elaborado.
A alfaiataria é o coração desta coleção, em tons de preto e modelagens amplas, sob as mãos virtuosas de Galliano.
Há uma grande mistura de materiais, indo desde o descartável até o luxuoso, mais um traço distintivo de Margiela. Os tecidos parecem reciclados, reusados, recortados e colados. Alças de sutiã, partes de um corset, pedaços de camisas, uma coisa grudada na outra de forma que não sabemos onde começa uma peça e termina a outra.
E então há elementos que são inconfundivelmente Galliano, como as cinturas marcadas e as saias com volume abaixo do joelho. E claro, tem a sensualidade, o drama e a performance dos modelos, que atinge o ápice na metade do desfile, com uma série de looks de alfaiataria impecável desfilada por quatro meninos. As calças super volumosas parecem ter sido dobradas até virar um shorts e usadas com paletós também amplos, sem nada por baixo. Os modelos andam com os braços rentes ao corpo, as mãos nos bolsos, expressando um misto de pressa, contorção e proteção. E o fazer isso, as roupas ganham uma nova forma.
Muitas modelos têm grudadas nas mãos a icônica etiqueta branca da Margiela, um dos elementos mais reconhecíveis da marca, que exibe a costura do lado de fora. O último look é um vestido preto sem muita forma – o look mais puro da coleção. E nele, apenas os quatro pontos brancos fixados no tecido – uma representação pura do dizer muito com pouco.