A coleção de verão 2023 da Roberto Cavalli retorna com a viagem desbravadora de Fausto Puglisi. Desde o ano passo, o designer passeia pelos arquivos e códigos visuais da marca, procurando construir novas coleções que deem um novo fôlego à casa italiana em um tempo onde praticamente todas as casas italianas clássicas buscam se encaixar sem necessariamente perderem a sua identidade e sua essência.
Logo na abertura do desfile, Fausto apresenta um vestido branco simples e até recatado para os padrões audaciosos e cheios de personalidade da Roberto Cavalli. Mas logo em seguida, a mulher Cavalli vai se aventurar pelo universo do “tudo ao mesmo tempo agora” com direito a todas as extravagâncias, drama, poder e glamour que a marca tem e pode oferecer.
A coleção é de fato um compilado de clássicos da Roberto Cavalli onde o animal print de tigre, zebra e píton vai encontrar produções completamente sóbrias – mas não muito. Há também momentos de cores em looks completamente monocromáticos ou em preto e branco. Camadas e mais camadas de plissados e babados constroem saias esculturais, que vão do comprimento mini ao longo. Esses plissados também aparecem em mistos de shorts bem curtos com saias abertas que beijam o chão em um jogo de mostra e esconde. Falando em chão, o que vai nos pés também compreende vários pontos de limite indo da sapatilha (que já ensaia um retorno triunfal) até sandálias de salto mídi e botas cuissards de saltos poderosos que acompanham a cartela de cores e estampas da coleção.
Nesse ponto do desfile, o primeiro look já é quase esquecido não fosse uma clara analogia de uma tela em branco para todas as possibilidades que a coleção apresentaria na sequência. Nesse momento, um segundo bloco de estampas e peças se apresentam em jeans estampados com pinturas que lembram o período barroco da arte europeia, estampas florais, de coqueiros, uvas e abacaxis aparecem em macacões justíssimos ao corpo, lembrando uma silhueta vinda direto dos anos 80.
Já numa clara referência aos anos 50, Fausto propõe saias acinturadas, rodadas e levemente armadas. À partir daí, camisas em seda cintilante, mangas bufantes, vestidos ultrasexy fluídos – um deles arrematado apenas com um pequeno broche de abacaxi, abre espaço para o último look um vestido em malha cintilante que dança no corpo da modelo Vittoria Ceretti conforme é desfilado. A cauda em tafetá prata, que evoca classe e modernidade, parece caracterizar muito bem o verdadeiro caos que foi o desfile da Roberto Cavalli. Fausto quis claramente representar as diversas fases, gostos e anseios de sua mulher desde a vontade de ser over, completamente sexy até a romântica, moderna e muito elegante, e ele acredita que há espaço para todas elas. (FELIPE VASCONCELOS)