Por Augusto Mariotti
Introspectivo em sua essência, Dries Van Noten é vibrante, solar, explosivo, especialmente em suas coleções de verão, em que seu já conhecido jardim se torna fio condutor, com looks que mais parecem arranjos de flores, cheios de texturas, leveza e fantasia. Para o verão 2023, no entanto, o trajeto entre espinhos e uma folhagem soturna foi incontornável. Reflexivo, o belga propõe um diálogo sincero antes de inserir elementos para sonhar.
O primeiro bloco inteiramente dedicado a roupas pretas nos faz questionar a noção de liberdade que o verão propõe: tecidos encorpados, uma modelagem mais afastada, que mais do que proteger, acolhe. Suavemente o preto vai ganhando a companhia do azul, mas ainda intenso, cobalto, como se despertássemos de um sonho (ou seria pesadelo?).
Os tons esmaecidos então vão invadindo, comedidos, em uma suavidade que enche os olhos. Mesmo que óbvias, é impossível não seguir as pistas que propunham essa renovação, esse florescer, acordar para um momento novo, que não se sabe ainda se será positivo ou negativo. A incerteza do belo traduzida com parcimônia, sem grandes aforismos.
Até quando chegamos no ápice com uma silhueta box e ultra oitentista, percebemos que o estilista traduz o desejo de se divertir por um outro prisma que é cerebral e menos hedonista. Mais do que fazer sonhar, essa coleção nos faz refletir sobre sentimentos, desejos e, principalmente, sobre o tempo das coisas.