Há todo um misticismo em torno da Prada, onde uma prega pode ser um easter egg, a forma de segurar a bolsa um sentimento e uma cor ser traduzida como verdadeiro ato de provocação. A culpa é de Miuccia e, agora, muito de Raf Simons também. Da primeira a austeridade, do segundo o improvável. De ambos o instigante.
Cabelos desgrenhados, preto, preto, preto… a não cor que prepara o terreno e indica mistério. O primeiro bloco é assim sisudo, beira o humilde, por mais que esteja bem longe disso. Então um vestido ultra girlie é usado com calça e mãos nos bolsos. Quem mais do que a Prada para amar ambiguidades? Juventude x maturidade, prisioneira x libertária, tímida x exuberante.
O deboche vem do improvável, como sempre, a minissaia que flutua com a cintura bem alta e marcada. O floral é outro ponto decisivo, meio Balenciaga, meio papel de parede, mas que definitivamente não passa despercebido. Brecholento na forma e na cor.
Os conjuntos de couro são mais o presente, limpos e despidos de códigos que não apenas a forma – afinal estão ali os ombros arredondados. Tem tomara que caia e pernas de fora também, em um inverno que não intimida. Mas quem intimida a mulher Prada a não ser ela mesma? Auto-referente e introspectiva. Se no verão ela vinha sonhadora com a space-age, agora ela volta pra sua concha para continuar a despertar curiosidade.