Costumo repetir com certa frequência algo que funciona até para um desfile de moda: existe o nosso tempo e o tempo das coisas. Há um ano, quando Sasha deu à luz a Mondepars, muito se especulava sobre como a marca iria se sustentar para além do primeiro momento — da novidade, do assunto do momento. A resposta veio na manhã de hoje (11.06), tendo o Theatro Municipal como cenário.
No enxuto release, uma das pistas mais instigantes: “inspirada pelo mobiliário modernista”. O movimento, vale lembrar, vai além de uma nova proposta — é uma ruptura com o passado. Nada de legado ou apreço ao ontem. Mas Sasha teve outra leitura. Seu segundo desfile não veio para impor algo novo, mas, principalmente, para explicitar o que a marca sabe fazer de melhor — e, antecipo a vocês, são muitas coisas.
A alfaiataria segue como o core. Já podemos afirmar que esse é o grande pilar da Mondepars. Se eu fosse obrigado a definir a apresentação em uma única palavra, seria: aperfeiçoamento. Parece que Sasha se debruçou sobre cada detalhe e se dedicou a lapidar tudo o que poderia ir além. O acabamento demonstra isso — o caimento, ainda mais. A imagem seduz, mas as peças, isoladamente, prendem o olhar pelo cuidado e pela atenção.
Quando Bruna Marquezine surgiu entre os flashes com um corset ultra esculpido, entregou que a construção seria um dos pontos altos — e foi mesmo. A modelagem, a moulage, a inteligência do fazer são celebradas, transformam o corpo e, em muitos casos, o revelam em seu ápice. Foi o caso do look usado por Linda Helena, que cruzou a passarela grávida de nove meses completos, em uma das imagens mais fortes do desfile.
O Brasil da Mondepars é outonal, vive à sombra — mas isso não o impede de ser um reflexo do hoje, onde local e global, desejos e vontades, se cruzam.